quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

só por hoje

30/12/2010


Ser. Essa errante tentativa de ser. 2010 se foi e, em mim, algo se foi. Muito se foi. Indagação, divagação, tergiversação. E essa ação comum entre reflexão, vácuo e ser se dissipa em obstáculos do cotidiano. Sou errante! Errante nesse caminho tresloucado de ser, coberto de atos, entrelinhas e cenários. Ah! Quanto mudou em meus cenários. Essa mudança ainda percorre cada veia, cada artéria pulsante de meu corpo frágil e dependente. Talvez essa incessante busca pela autonomia plena, de corpo e alma, destrua cada pedaço do ser. Não! Não existe autonomia! Somos todos errantes, filhos de Caim, acorrentados a algum tipo de ação, questionamento ou pensamento. Somos o pleno movimento e a dança de nossos corpos passa transversal a qualquer sentido existencial. Tentei a cama com Freud e Nietzsche, flertei com Clarice e Simone de Beauvoir, e agora tento não falar mal da rotina com a intimidade de Elisa Lucinda. Essas bagagens intelectuais abrem horizontes, mas é preciso ação! Tento sorrir, mas o cotidiano praticamente me impede. Tento não alimentar mágoas, mas o passado me atormenta. Tento ser feliz, mas os remédios não funcionam. Tento não ser triste, mas a arruda deixou de ser forte. Tento ser e não ser. Então, decidi: não sou nada e nem ninguém. Uma simples errante traçando caminhos de uma aquarela em preto e branco. Cambaleando pelas esquinas claustrofóbicas de noites solitárias. Me embriago com as dúvidas, com o talvez e com o quiçá. Sou e não sou, mas para 2011 seguirei a receita: só por hoje!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Memórias póstumas de um final de ano

Crédito: Ascom/ MDA


Avançamos. Definitivamente, avançamos. Embora distantes de uma reforma agrária, inúmeros projetos de agricultura familiar, bem como políticas direcionadas para o campo foram implementadas. Fez-se a luz no campo, programas de educação foram regulamentados, a lei de assistência técnica gratuita foi efetivada. Mas ainda há dificuldades para crédito pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), além de falta de acesso à saúde, a transporte público e afins. Direitos básicos não reconhecidos. Trabalhadores rurais ainda sofrem. São criminalizados pela mídia. São discriminados. No entanto, pergunto: estas famílias vão para debaixo de lona preta porque querem? A lona preta no calor é quase um teto de zinco em chamas e na época de chuvas e inverno, não protege. A isso chamo: resistência.

Avançamos. Definitivamente, avançamos. Elegemos a primeira mulher presidenta do país, diante de um cenário conservador imposto pela mídia. Aborto, distorção da luta contra a ditadura militar e até orientação sexual entraram no debate “político” (que de político não teve nada). Assistimos ao rebaixamento claro da direita, sem agenda política e agindo com a conivência dos donos dos grandes veículos de comunicação. Eu, que não sou PT, fui às ruas, fiz campanha pela eleição de Dilma. Afinal, não poderia ver meu país (S)cerrado por mais privatizações.

Avançamos. Definitivamente, avançamos. O governo Lula tomou a postura corajosa de apoiar Manuel Zelaya, presidente de Honduras, durante o golpe de Estado. Estreitamos relações com nossos irmãos latinoamericanos. No entanto, acompanhamos um retrocesso histórico: o envio de tropas militares brasileiras ao Haiti. Vergonhoso!

Avançamos. Definitivamente, avançamos. Foi criado o Conselho Nacional de Combate à Discriminação, denominado Conselho Nacional LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). Mas ainda não aprovamos o projeto de lei 122/06, que propõe a criminalização da homofobia. Assistimos cotidianamente atos de violência à população LGTTB (prefiro usar a sigla completa), ainda ouvimos comentários preconceituosos – muitos sob pretexto religioso – olhares discriminatórios e as travestis e transexuais sem qualquer direito à cidadania. Dignidade já!

Avançamos. Definitivamente, avançamos. Realizamos a I Conferência Nacional de Comunicação. Contudo, poucas famílias ainda detêm o monopólio dos meios de comunicação, não há controle social e o movimento de rádios comunitárias é cada vez mais massacrado e criminalizado.

Avançamos. Definitivamente, avançamos. Esta é uma breve análise. Não é meu papel alardear apenas os problemas, e muito menos destacar apenas os aspectos positivos. Crítica e auto-crítica são fundamentais na construção de um projeto de uma nação com soberania, justiça e solidariedade. Se avançaremos mais? Não sei, mas aqui também ficam as minhas críticas, algumas memórias e deixo que a História nos diga, nos absolva ou nos culpe...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A Lapa é assim

A Lapa é assim. Algo inexplicável, talvez sensorial. Saias apregoam contra a gravidade. Moicanos contrastam com penteados crentes. Pernas doídas convalescem nas esquinas. Fomes são esquecidas. Ao lado do forró, dance até o chão com o batidão do funk, ou então siga pela Mem de Sá num bloco improvisado de carnaval. A Lapa é assim. Palmeiras de acolá com ervas de outras escadarias. Reggae além da medida no churrasquinho da esquina. A Lapa é assim. Gelada como o chopp do botequim. Solitária como a feira dos arcos. Sufocante como a fila dos shows. Destilada como a batida de quinta da barraca da tia Neide, que nem sei se existe. A Lapa é assim. Sincretismo fervoroso, São Jorge sobre nós e lama sob nós. Somos o bueiro mais diversificado e mais cobiçado deste Rio de Janeiro. A cada esquina uma nova roda, um novo ritmo, um novo cheiro de cigarro, uma nova cerveja e até uma nova cantada. A Lapa é assim. O buraco arqueado mais excitante de todas as contradições existentes. A Lapa é assim.


11 de dezembro
- Bumbum de passista de samba é feito de laquê;
- Cerveja é bom e todo mundo gosta;
- Gringo inventa uma dança que ninguém entende;
- A Lapa é clandestina...

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Testamento Cotidiano

Confiram meu novo projeto em http://testamentocotidiano.blogspot.com

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Mulheres de anis em Caim

04/11/2010

Mulheres de anis
como confundem
olhos em perdição
entre paraíso e redenção

tudo isso não me apetece
mulheres de anis
carvalhos nus
aos seus pés

à espera de Lilith
esfomeada
pronta para engolir

aquele Caim
não lhe era de direito
nem corpo
nem marca
nem falo

talvez fala
mas, enfim, ante-quarto
antiquado

anti cristo



terça-feira, 21 de setembro de 2010

O latifúndio da invisibilidade

O latifúndio da invisibilidade

21/09/2010

Após 6 horas de trabalho, levantar cedo, almoçar rapidinho para economizar no horário, finalmente, chego ao metrô. Meu destino: Ipanema – zona sul do Rio de Janeiro. Quase 6 da tarde, no contra fluxo da maioria dos trabalhadores que se dirigem à zona norte. Metrô lotado, mas não mais do que aquele que se movia até a Pavuna. Quase chorei só de olhar as pessoas se esmagando, senhoras carregando bolsas para o alto e travando uma verdadeira batalha.

Meu vagão era aquele exclusivo para mulheres que, diga-se de passagem, ficou só no papel, pois não há qualquer fiscalização. Também lotado, mas o pior estaria por vir. São 10 estações da Cinelândia até Ipanema. Um trajeto que levo aproximadamente 20 ou 30 minutos para cumprir, demorou mais de 1 hora! Em cada estação, o vagão ia se tornando menor. Isso porque não parava de entrar gente. Os trilhos pareciam engatar a marcha ré com tanta lentidão, talvez por falta de energização. Não sei exatamente. Apenas ouvia: “Estamos aguardando liberação do tráfego à frente”.

Enquanto aguardávamos a tal liberação, o ar condicionado parecia ter sido desligado e, nós, trabalhadores, ficamos ali, presos, sem ar e compartilhando os mais diferentes odores. Olhava para os lados e apenas as pedras do caminho do metrô. Quase chorei. Já peguei metrôs muito mais lotados do que este, mas, hoje, especialmente, estava sensível. Olhava para o outro lado quando as pedras assim o deixavam, via situação ainda pior no carro em direção à Pavuna. Só conseguia pensar: este é a parte que nos cabe neste latifúndio. Aliás, pensar não, questionar: este é a parte que nos cabe? Não, não nos cabe!

Nunca quis comprar um carro, porque acredito na coletividade do transporte. Não da forma como está colocado, pois não temos acesso a um transporte público de qualidade. Muitos querem evitar ônibus e metrôs lotados e compram veículos próprios. Além de gasto com seguro, gasolina, estacionamento, a emissão de gás carbônico é enorme. Mesmo com carro, não fugimos do trânsito. Então, que tal dar uma de Angélica e Luciano Huck e pegar o jatinho? Também não! Ou talvez uma projeção de nossos corpos? Nada disso vai adiantar, enquanto alimentarmos o individualismo e as políticas de Estado continuarem aquém. Não sou contra a compra de carros e afins para locomoção, mas sou contra a situação da forma como está hoje. Por que as pessoas que não têm carro ou jatinhos, precisam ser humilhadas no transporte público desta forma?

Quando saí do metrô, respirei e olhei para trás. Nós, centenas de trabalhadores, na luta cotidiana pela sobrevivência disputando um espaço para subir a escada rolante e, enfim, respirar. Comecei a tremer e não entendi muito bem o motivo. Mas, mais tarde, já em casa, compreendi: senti a dor mais pesada. A dor nos ombros. A dor da invisibilidade. Todos nós, ali, sufocados, presos, reféns e completamente invisíveis.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

mil faces da dor - parte I

Mil faces da dor - parte I

31/08/2010


minhas mãos doem
pulso, tendão, dedos
esse tal sentir dói
sinto a dor multifacetada do fazer
pulsando em meu corpo
sinto a dor dilacerada do dever
tendendo à prisão
tendo à tensão
tendo à dor
e como dói
quase sem movimentos
me questiono:
o que será de um corpo sem dor?

sábado, 26 de junho de 2010

para distrair e abstrair

Três dicas de filmes que assisti recentemente

- Tudo pode dar certo, Woody Allen - maravilhosamente e cartesianamente lindo! Sensibilidade à flor da pele preta...

- O Segredo dos teus olhos, Juan José Campanella - história digna para contos de meio da madrugada! muito bom o roteiro!

- Bonequinha de luxo, Blake Edward - adoro este tipo de filme, a interpretação e as expressões faciais bem demarcadas e quase exageradas me fazem sorrir... adorei!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Reflexão sobre o dia dos namorados



Reflexão sobre o dia dos namorados

15/06/2010

12 de junho e o amor está no ar. É dia dos namorados e os casais planejam programas românticos: jantares, viagens, motéis. E, da mesma forma, casais gays celebram o dia, mas a história muda um pouco de rumo. Algumas histórias.

I
Duas meninas entram em um restaurante na Avenida Atlântica e pedem:

- “Mesa para duas, por favor”.

E o maitrê, desconfiado, lhes indica a mesa no fundo do bar e sequer as olha diretamente e mal são atendidas. Olhares por todos os lados e mal podem segurar na mão uma da outra.

II
- “Amor, vamos para a serra curtir o friozinho do dias dos namorados?”

Roberto reserva um quarto de casal para passar um final de semana romântico com Paulo. Quando chegam ao hotel fazenda, duas camas de solteiro. Roberto telefona para a recepção e diz que enfatizou que era um quarto para casal e a recepcionista lhe diz:

- “Não entendi, a reserva não era para dois homens?”

Paulo e Roberto juntam as camas e embalam no frio da serra.

III
Véspera de dia dos namorados: lojas lotadas, cartões com dizeres e imagens heteros; constrangimento na compra.

IV
Andam de mãos dadas. Se amam. Os olhos brilham de paixão e admiração pelo outro. Não podem se beijar no táxi. Não podem se abraçar na rua. Não podem enlaçar os dedos sobre a mesa de algum restaurante. Não podem dar flores em público para sua namorada ou para o seu namorado. Não podem dividir o mesmo talher na hora da sobremesa. E quem disse que não pode? Eles podem dizer não, mas devemos exigir RESPEITO! O amor é o mesmo, não importa a orientação sexual e a opressão dói e corrói. Foi-se o tempo da clausura em guetos gays e igualdade é fundamental para a construção de uma sociedade realmente solidária e fraterna. Liberdade e respeito sempre!



terça-feira, 8 de junho de 2010

espelho Metade de mim




espelho Metade de mim


Parafraseava Cazuza no canibalismo noturno

08/06/2010


Sabia que o mundo a comeria. Por isso, resolveu comê-lo antes. Não compreendia as certezas da vida e vivia nas incertezas. Preferia o momento, o carpe diem ao invés de compromissos rasteiros e adiantados. Gozava com a dúvida e, assim como seu último suspiro de prazer, morria aos poucos. Uma eterna contradição. Incompreensível em sua mais pura sinceridade e injustificável rebeldia. Assim era sua arte. Nada prometida, nada casta e inteiramente maculada. Procurava a metade do mito de Platão e se perdia em lamentações de Prometeu. Estava acostumada com a solidão, breve poeira do criado mudo. Silêncio. Seu maior temor era o sussurro. Não suportava o intermediário. Para ela, era ser ou não ser. E era... pelo menos, costumava ser. Entre poesias e drinks baratos, a lua em tom depressivo lhe acompanhava. Era triste. Sem motivo, mas era triste. Gostava de sorrisos e fingia os próprios. Quase um Chaplin na corda bamba, entre sorrir para a plateia, chorar pela própria alma e temer a queda. Ai que dó. Ai de mim.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Direito à memória e à verdade: hora de abrir as páginas desta História




DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE: HORA DE ABRIR AS PÁGINAS DESTA HISTÓRIA





“Num tempo, página infeliz da nossa história, passagem desbotada na memória das nossas novas gerações, dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída”, diz a letra da música Vai Passar, de autoria de Chico Buarque e Francis Hime. Assim, milhares de pessoas foram “subtraídas” do convívio durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Centenas foram os mortos e desaparecidos políticos. Milhares, os torturados, sequestrados e presos. Este período foi o mais sombrio da história deste País e, no último dia 29 de abril, o Supremo Tribunal Federal (STF) perdeu a chance de reescrever esta página infeliz.



Isso porque manteve a interpretação de que a Lei de Anistia Brasileira (Lei nº6683/79) abrange os agentes de Estado que foram autores de crimes contra a humanidade. Com o objetivo de questionar a concessão da anistia de forma universal, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pediu uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 153) para que a Lei fosse revisada. No entanto, por sete votos a dois, o STF rejeitou a proposta. “Questionamos a leitura hegemônica que fazem da Lei de Anistia. Houve a interpretação equivocada de que crimes conexos foram cometidos pela figura do Estado. Os crimes estão escondidos e não são públicos. Não é possível anistiar alguém que sequer foi processado”, avaliou Cecília Coimbra, presidente do grupo Tortura Nunca Mais.


“Esta decisão foi uma grande decepção e contraria todos os princípios humanitários. Uma verdadeira vergonha para o País”, declarou Laura Petit da Silva, 63 anos, diretora de escola municipal, aposentada e integrante da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos. “Os crimes cometidos foram de lesa-humanidade; não foram crimes políticos, foram crimes comuns”, enfatizou Vitória Grabois, vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais e ex-guerrilheira no Araguaia.


Além de contribuírem em organizações em prol dos direitos humanos, o que essas mulheres têm em comum? Ambas perderam familiares durante a ditadura militar. “Em 1973, tenho pai, irmão e primeiro marido desaparecidos políticos na Guerrilha do Araguaia. Vivi na clandestinidade de 1964 a 1980. Desde que voltei ao convívio social, luto pelo esclarecimento dos fatos”, afirmou Vitória. “Eu tenho três irmãos desaparecidos – Lúcio, Jaime e Maria Lúcia – também no Araguaia”, disse Laura. O corpo de Maria Lúcia foi um dos únicos identificados. Em 1991, foram encontradas duas ossadas que foram encaminhadas para a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No entanto, o processo de identificação foi bastante moroso e, somente em 1996, quando um militar entregou fotos e anotações do momento histórico que, finalmente, foram iniciadas as investigações. “No material entregue pelo militar, havia uma foto da minha irmã morta tal qual a ossada encontrada. 24 anos após a morte de minha irmã, houve a exumação do corpo e a confirmação de que se tratava de Maria Lúcia”, contou Laura.


Comissão da verdade

A luta destas mulheres é a extensão da luta de milhares de familiares que buscam informações sobre parentes e amigos desaparecidos na ditadura militar. “Queremos esclarecimento sobre os fatos. O que aconteceu? Por quê? Como? Por quem? Onde?”, questionou Vitória. “Nenhum de nós quer um banco de réus, queremos que o Estado brasileiro assuma sua responsabilidade e que abram os arquivos”, pontuou Cecília Coimbra.


No final do ano passado, o governo brasileiro propôs a criação da Comissão Nacional da Verdade, parte integrante no 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH). No entanto, de acordo com Cecília, a comissão não passa de um programa de boas intenções. “O que nós, movimentos sociais, propusemos em dezembro de 2008 – durante a Conferência Nacional de Direitos Humanos – era a criação de uma comissão para investigar crimes de repressão política, e não de conflito político, como está colocado agora. É preciso compreender que não houve guerra nesse País, houve extermínio”, ratificou.


Uma página que se abre – Brasil pode ser condenado por crimes de lesa-humanidade na Corte Interamericana

Diante da falta de responsabilidade do Estado brasileiro perante as atrocidades cometidas na ditadura militar, o Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil), o grupo Tortura Nunca Mais e a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos de São Paulo recorreram à justiça interamericana por violação de direitos humanos, ajuizando ação na Comissão de Direitos Humanos da Corte Interamericana, ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA). Esta é uma ação que se estende desde 1995, quando familiares pediram respostas e o governo brasileiro não as forneceu, fato que os fizeram.


Em 2008, o caso referente à Guerrilha do Araguaia foi enviado à Corte. “O Brasil é signatário de inúmeros decretos entre a OEA e a Organização das Nações Unidas (ONU) que condenam crimes de lesa-humanidade. Vale lembrar que as leis internacionais estão acima das nacionais. Esperamos que o Estado brasileiro seja responsabilizado”, afirmou Cecília.


A audiência do processo será entre os dias 20 e 21 de maio, na Costa Rica. De acordo com informações da presidente do grupo Tortura Nunca Mais, a sentença pode demorar de três a sete meses.


O massacre no Araguaia

Quase 80 guerrilheiros contra centenas de oficiais das Forças Armadas. Esta foi situação da Guerrilha do Araguaia. Entre 1972 e 1974, 69 guerrilheiros partiram para as margens do rio Araguaia, localizado no sul do Pará. A maioria destes homens e destas mulheres tinha formação em engenharia e medicina, seguindo a linha estratégica de Che Guevara. Os guerrilheiros prestavam atendimento social à população concomitante a um trabalho de formação política e conscientização, à medida que conquistavam territórios e confiança.


Alguns camponeses aderiram ao movimento. No entanto, com a chegada desproporcional das Forças Armadas, o massacre foi inevitável. O governo da época enviou homens do Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícia Federal e Polícia Militar do Pará, Goiás e Maranhão para combatê-los, com registros de total desproporcionalidade e covardia.


Pacto socialDiante de tantas mortes, desaparecidos políticos, torturas e massacres, o que leva o Estado brasileiro a ignorar tais fatos e ser o único país da América Latina a não abrir os arquivos da ditadura militar? Maquiavel talvez possa responder, quan­do fala em nome de uma segurança de Estado, conceito hoje definido como Razão de Estado, ou seja, a atuação dos governantes seguirá de acordo com a necessidade de segurança destes. “Nunca tivemos muitas ilusões no STF, já que a correlação de forças não é favorável. O que me parece é que desde 1985 foi feito um acordo que respaldou a ditadura militar”, provocou Cecília. A conjuntura política e o processo histórico que se estende em relação a esses fatos podem vir a resultar numa espécie de acordo entre militares e Estado, independentemente de governo.


Entre espinhos, a esperança floresce

Embora sejam atacados de revanchismo pelos setores conservadores da sociedade brasileira, movimentos sociais e organizações caminham bravamente em busca de justiça e verdade. Inclusive, as poucas informações conseguidas ao longo de todos esses anos se deve, única e exclusivamente, à mobilização das famílias que realizaram caravanas e investigações por conta própria. “Não queremos revanche; queremos justiça", con­cluiu Vitória Grabois.





Camila Marins para o jornal da Fisenge









quinta-feira, 13 de maio de 2010

Quase duas da manhã deste 13 de maio falacioso




Quase duas da manhã deste 13 de maio falacioso
13/05/2010

Perco-me de mim mesma
confesso diante deste altar
sedento de hipocrisia:
anos se passaram

e houvera a época que escrevia sobre ânus
brincava na cama entre Kafka e Sartre
Ah! Como Simone me espiava

de repente, não mais do que pânico
me afundo em redundâncias da existência
cálida queda cama
casa come quero

admito! Os verbos me causam orgasmos
daqueles múltiplos
não mais do que língua afiada

e o vento não existe, nada é
diante de minh’alma orquestrada
cacofonias de um dialeto mal dito
maldito!

e quanto ao hoje?
redoma que engole
enrolo-me em lençóis
nua de falácias ancestrais

sou um anjo mascarado
de sedutor: Lilith (dê) me acompanha em arquétipos
divido entre gêneros
o divã – testemunha de uma alma rodriguiana

meu canto vai além
atinge sustenidos famélicos
e meus poetas pedem mais
mais
mais – sussurram ao pé de minha orelha quente

brinda comigo
quem se atreve?
deixo minhas bodas de prata
e mendigo pelas próximas

nexo? coMneXo
e o plural retorna aos meus escritos
sempre na dúvida, temerosa
de alcançar
a plenitude fantasiosa

that’s me or not...

meus joelhos denunciam a forma do meu pecado
em flor




segunda-feira, 10 de maio de 2010

Todo REPÚDIO à revista Veja. Viva a luta do movimento LGTTB!


10/05/2010

A revista Veja publicou nessa semana a seguinte matéria: "Ser jovem e gay. A vida sem dramas." A reportagem – por meio de depoimentos de jovens de classe média e classe média alta – aponta que os jovens gays têm assumido a homossexualidade sem qualquer razão para temer ou esconder. A revista ainda mostra que ser militante da causa é quase ultrapassado e que a luta é desnecessária. O que a matéria não registra ficou na marginalidade da informação: homofobia existe.

O estranho é que não há um negro ou uma negra na matéria. Ou então jovens pobres. E as travestis? Por que elas não conseguem emprego? Imaginem só uma mulher afirmar que é negra e lésbica. Demais para os leitores de Veja? De acordo com dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), o Brasil é o campeão mundial de crimes contra lésbicas, gays, travestis, transexuais e bissexuais (LGTTB’s): um assassinato a cada dois dias, aproximadamente 200 crimes por ano, seguido do México com 35 homicídios e os Estados Unidos com 25.

Não precisamos apenas de dados para constatar a homofobia. Quantas piadas, xingamentos e brincadeirinhas estão carregadas de preconceito? Basta ligar a televisão que podemos assistir um general das Forças Armadas (mesmo exemplo dado pela revista) afirmando sua posição contrária à presença de gays na instituição. Pior ainda, que País é este que respalda Marcelo Dourado como campeão do Big Brother Brasil e queridinho da população brasileira? Isso porque Dourado, além de comentários e atitudes machistas e homofóbicas, afirmou que heterossexuais não pegam Aids. Fato que fez com que a Globo utilizasse o mesmo espaço para esclarecimentos do Ministério da Saúde.

Se tudo está mais tranquilo, livre de preconceito e agressões, por que o Brasil não aprova a Lei 122/06 que criminaliza a homofobia? Esse preconceito velado é uma das piores tendências e a revista Veja, inegavelmente nojenta, tenta convencer a população que militar no movimento LGTTB é ultrapassado, ‘over’. Ninguém esconde orientação sexual embaixo de bandeiras. Ao contrário, militamos por uma sociedade justa e livre de preconceitos. Desqualificar a luta do movimento LGTTB é, no mínimo, ignorância. Foi por meio da luta do movimento que a homossexualidade deixou de ser considerada doença e perversão e, até hoje, é referência histórica na luta contra a homofobia.

Se não há preconceito, por que pessoas do mesmo sexo não andam sequer de mãos dadas em público? Por que travestis sofrem violência física e moral todos os dias? Por que as travestis não conseguem emprego ou o simples direito de mudar de nome? Por que as mulheres lésbicas sofrem com a falta de um atendimento específico nos hospitais e postos de saúde – elas mal são tocadas, principalmente as negras, além de sofrerem com péssima orientação médica? Por que homens gays são massacrados em instituições, seja exército ou universidade? Por que casais gays não podem se casar ou adotar filhos? Eu mesma, só conheci uma travesti com um emprego que não fosse profissional do sexo. Ela era operadora de telemarketing... Mais uma vez, escondida.

A luta contra a homofobia não deve parar e cada um de nós deve lutar por um mundo melhor livre de opressões. Todo REPÚDIO à revista Veja. Viva a luta do movimento LGTTB!

domingo, 9 de maio de 2010

flores a beijar



flores a beijar
09/05/2010


Acordara embebida em mel
no meio
no meio, um beija-flor
bate bate bate

bate asas e voa

a flor do teu segredo
deflorada
doce
suculenta, prestes a
a
voar

voa beija-flor
estende tua língua
e amortece o corpo em movimento

invade a cova
aquela que te envolve
quente
consente e padece

toma minha mão e dança
além de desafinados passos
Este é o meu mel

tomai e bebei

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Cinzeiros libidinosos

Cinzeiros libidinosos

29/04/2010

Ah! Eu era virgem!
molho os lábios em cigarros de menta
Argh! quase me enjoam
aqueles lábios úmidos
tragavam a fumaça irônica
que bulinava entre meus dedos

de repente, não sou mais virgem
e aquele filtro vermelho
contrastava com tuas veias
nada libidinosas

Ah! Ah!Ah!
Cazuza me umedecia emudecida
Úmida! Muda!

Ah! Não sou mais virgem!
e os cinzeiros lotam de orgasmos
tragadas múltiplas
entre o ser e o não ser
Cansei!
Sou artista!
Nada mais exagerado...
To be or not to be?
Just an artist

terça-feira, 6 de abril de 2010

The End - The Doors



The End - Ao som de "The Doors"

05/04/2010

Tempo derruba paixões e passa a perna em Platão. Quem estava certo ou errado? Isso não importa, apenas o tempo que transforma. Tomo uns drinques e me inspiro em pileques homéricos. Ah, quantas figuras gregas que tentam iludir a... a... a... soluço... a...a... vida. Ow, do you speak English? Ow, I’m tired of this!!!! E a memória se incumbe do irreal apagar. Encho a cara e choro silenciosa com as gotas do redundante chuveiro úmido, alagando meu corpo em lágrimas. Esta foi a última vez. Última vez por você. Porque sofrer de amor e de saudade é bom. Ah! Muito bom! Quase gozo! E assumo para mim mesma o inadmissível: nosso fim. Enfim... livre! Respiro, me inspiro e nosso tempo expirou. De tudo isso, me restou a inspiração: eu... eu mesma... Just me...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Canção para espelho

01/03/2010

Vertiginosa. Praticamente maliciosa! Sua mente não mentia, mas seus dedos traíam a inspiração. Talvez não fosse mais a mesma ou fosse. Ainda sonhava com aquela que seria quando crescesse. E já tinha quase 30 anos... olhava sua face no espelho e detonava o peso da maturidade. Ainda queria sonhar com aquela que seria quando crescesse. Chega de Clarices, Cecílias ou simplesmente amor. Seu coração infantil sorria gargalhadas pleonásticas de uma infância roubada. Só queria poder andar descalço pela rua, subir em uma árvore e até soltar uma pipa. Isso não tinha lembrança, apenas de suas dores. Ah! Como sonhava com aquela que seria aos 30 anos... e cá estou eu saindo da terceira pessoa para a primeira. Presente!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Entre Fridas e tulipas


Entre Fridas e tulipas

20/02/2010


Sabia da diferença canibal entre 4 paredes.
de quatro

números, algarismos e tabelinhas


finalmente, livrava-se da poesia barata feita de lençol vagabundo. Rasgava versos em linhas sedentas. Apenas corpo. E era uma vez a prosa. Parecia um gato a vagar pelas esquinas em busca do outro. Talvez gênero, ou não... não estava em busca do amor. A dor lhe convinha mais e combinava com o melhor de seus orgasmos. Sabia que o amor já lhe acompanhava e estava em seus sonhos. Sua dor de Frida esvanecia na cama coberta por tulipas vermelhas. Pensava no Ser e a existência batia-lhe na face com luvas de couro. Um dia, lhe perguntaram: “E quanto ao coração?” O tempo ardia e o sangue nas veias corroia caminhos do não ser. Chora Frida. Vem e chora pelo meu corpo as pétalas de tua dor...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Sobre Samuel Beckett



..."e a obra que traz sua assinatura não continuam a velar para ver o que nós, sobreviventes, vamos fazer de seu silêncio, que fala ainda, mesmo se é sob o modo da não palavra, eco da pura voz inominável?"



Plínio Prado Jr.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

TRABALHADOR x PATRÃO

Cansei. Você aí sentado do outro lado, mandando e desmandando. Diz pra mim que não é patrão não, mas sei bem que toma Chandon. Sabe o valor do salário? Sabe qual é o piso da categoria? Sabe se hoje eu almocei? Não! Nada sabe, eu sei! Finge que a loucura lhe acomete, mas sei bem o que é. Eita mosquitinho ruim esse do poder. Ai, cansei. Podia pedir demissão, mas e o meu ganha-pão? Como diz o nosso presidente Lula no filme sobre sua vida: “Trabalhador tem que sobreviver. Trabalhador tem que botar comida na mesa”. E se eu não almoço, preciso tomar conta da janta. Cansei desse lenga-lenga. Cansei. Mas também lembrei de Dona Lindú, mãe de Lula: “Teima, meu filho, teima. Tua hora vai chegar, mas precisa saber a hora de parar”.
À espera...

SIM! Sou uma trabalhadora!!!!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A história de um outro Luiz, também filho do Brasil


Foto premiada pela ONU






A história de um outro Luiz, também filho do Brasil


Negro, pobre, estudante de jornalismo e militante, jovem tem fotografia selecionada em concurso da ONU

“Comia pasta de dente por falta de comida”, lembrou Luiz.


Camila Marins


Olhos que vivenciaram a tortura psicológica e física. Olhos que sofreram com o abuso sexual, preconceito e a miséria. Olhos que sentiram fome. Olhos que ainda têm fome. Fome de uma sociedade mais justa e solidária. Este olhar sonhador pertence ao jovem Luiz Roberto Lima, 35 anos, estudante de jornalismo e coordenador do Diretório Acadêmico de Comunicação da PUC-Campinas. Luiz foi um dos quatro selecionados para o concurso mundial de fotografia “Humanizando o Desenvolvimento”, promovido pelo Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) que selecionou 50 imagens de 27 países.

Participaram do concurso fotógrafos profissionais e membros da sociedade civil. O conteúdo enviado foi avaliado por representantes do IPC-IG, do Programa de Voluntários das Nações Unidas (UNV) e um fotógrafo profissional. Os olhos que já presenciaram o pior das mazelas sociais, hoje, registram por meio da lente fotográfica a realidade, rumo à construção de um mundo melhor. Militante de direitos humanos, Luiz explicou que o objetivo da foto, feita em 2009 em uma oficina de meio ambiente no distrito de Sousas, em Campinas, foi mostrar exemplos de superação social.

Já no 3º ano de jornalismo na PUC, Luiz é bolsista do Prouni e carrega uma história de luta e sobrevivência. Abandonado pela mãe na maternidade, ele cresceu em um orfanato, onde sofreu todos os tipos de violência possíveis. “Tinha muitos afazeres domésticos, como cuidar dos menores. Passava a noite inteira acordado, pois se os bebês chorassem, eu apanhava muito. Qualquer travessura era motivo para ficarmos sem comida. Muitas vezes, cheguei a comer pasta de dente, mesmo com uma dispensa enorme cheia de comida que, inclusive, chegava a estragar, mas eles não nos deixavam comer”, contou.

Entre espancamentos, assédio moral e fome, Luiz não foi imune ao preconceito, já que é negro. “O fato de ser negro pesava muito. Eu pedia a Deus para ser branco e assim ser adotado para libertar-me daquela situação. Apanhava feito um condenado, por motivos banais. Nós não podíamos contar para visitas, pois as surras eram piores”, relatou Luiz lembrando que seu apelido era “Negrinho do Pastoreio” e, por este motivo, simplesmente pelo fato de ser negro, recebia surras homéricas, assim como outros companheiros negros.

Além de negar comida e espancá-lo, as pessoas responsáveis pela instituição que o acolheu também surravam os bebês, segundo Luiz. “Quando as crianças de berço choravam muito, as tias pressionavam a cabecinha delas contra o berço. Na hora do banho, batiam muito. As crianças viviam marcadas. Lembro-me de um menino negro, chamado Jorginho, ele tinha um ano e meio aproximadamente. Ele chorava muito e quanto mais chorava, mais apanhava. O menino, coitado, só queria ficar no meu colo. Ele me via e chorava. Às vezes, a tia me fazia passar a noite inteira com ele no colo e não podia dormir”, declarou.

Mesmo com inúmeras doações à instituição, as crianças e os jovens não recebiam nada. De acordo com Luiz, sua principal memória do Natal era quando uma fábrica de brinquedos fazia uma imensa doação e as crianças nunca chegavam a ver os tais presentes. “Num determinado Natal aprontamos alguma coisa. Era comum no final de ano, algumas famílias nos levarem para suas casas, mas neste ano, devido a alguma travessura, passamos todos nós lá, com fome, vendo a caseira comemorando com a família e todos muito bem arrumados”, denunciou.


E o Luiz cresceu

Aos 11 anos, Luiz foi transferido para uma instituição para adolescentes. O menino sonhava que poderia viver melhor, pelo menos com mais tranquilidade e sem surras, mas não foi bem esse quadro que ele encontrou. “Diálogo era o da porrada. Era como se fosse um quartel, com as regras mais arcaicas que podiam existir, baseada na submissão e violência. Tinha um cara que cuidava da gente, chamado Benê, negro também. Ele era o mais violento batia com murros e pontapés. Era um ambiente de medo, revolta. Parecia um caldeirão com todos os ingredientes presentes, prontos pra explodir”, ele contou.

Mesmo com o corpo dolorido de violência e a alma castigada pela injustiça, Luiz alimenta um sonho: o de conhecer sua mãe. “Desde criança olho para as mulheres negras que encontro imaginando como seria minha mãe e, assim, meu olhar foi envelhecendo com as dificuldades para encontrar minha verdadeira família, mas a esperança ainda persiste em mim”.

Aos 16 anos, ainda sem perspectiva de adoção, Luiz pediu emancipação e foi morar em uma pensão. No entanto, pouco tempo depois, ele perdeu o emprego e foi morar na rua. “Aí que realmente eu vi o que era sofrer. Descobri que a violência, o abuso sexual sofrido na primeira instituição não chegavam perto do que era a rua - nua e crua”, revelou.

De acordo com levantamento feito pelo Ministério de Desenvolvimento Social, há uma predominância masculina (82%) entre as pessoas em situação de rua. A maior parte, 53%, situa-se na faixa etária de 25 a 44 anos. Nesta população, 30% se declararam negros, índice bem acima da média nacional, que é de 6,2%. Já o percentual dos que se consideram brancos é de 29,5% (esse índice é de 54% entre o conjunto dos brasileiros). “Conheci alguns "menores de rua" e comecei a acompanhá-los. Tentei furtar pra comer, mas não dava certo, eu não conseguia, diferenciava-me, dos demais. Alguns dos meninos e homens de ruas mais velhos, diziam que a rua não era pra mim. Na verdade, a rua não é pra ninguém”, alertou Luiz.

Depois de passar três anos em situação de rua, Luiz começou a viver com a solidariedade das pessoas que lhe ofereciam abrigo, comida e ajuda. Começava a construir uma nova vida e, desta vez com o apoio de amigos e companheiros.

Outro fato que revelou o preconceito aconteceu em um shopping center de São Paulo. “Comecei a trabalhar e já podia comprar minhas roupas de marca, que é o sonho de jovens da periferia. Fui com um amigo comprar o tão sonhado tênis. Mas como paguei à vista o vendedor, achou que eu era bandido e avisou o setor de segurança. Fui algemado pelo segurança em uma cadeira e comecei a levar tapa na cara, com um revólver apontado pra minha cara. O interessante é que meu amigo, branco, não apanhou. Eu gritava e o segurança pegou dois fios ligado na tomada e passou a dar choque, querendo saber do resto do dinheiro, querendo saber de que quadrilha eu era”, disse Luiz lembrando que todos os seus documentos estavam certos e não havia qualquer indício para que o acusassem. “As ameaças eram cruéis, a ponto de ele dizer que ia me penetrar com cabo de vassoura. Para minha sorte, chegou um chefe de segurança do turno da noite, e perguntou o que estava acontecendo, o segurança relatou e eu relatei”. Foi nesse momento que o rapaz foi liberado.

Após este episódio traumático, Luiz resolveu entrar em um supletivo e em um cursinho, momento em que passou no Curso de Ciências da Educação da UERJ, logo depois transferiu para Ciências Sociais. “O cursinho foi fundamental na minha trajetória, pois ele era alternativo, então me deu uma base socialista, de esquerda. Lá aprendi música, teatro, poesia, arte e esperança. Esperança para uma nova vida”. Sem dinheiro, ele resolveu arriscar e iniciou sua faculdade. Inicialmente, conquistou uma bolsa-auxílio, mas o governo da época (Garotinho) cortou o benefício e Luiz teve de abandonar no 3º ano e retornar à Campinas. “Procurei um emprego na cidade e fui trabalhar num call center. Fiquei um ano sem estudar e depois entrei na Puc para fazer Direito pelo Prouni. Fiz um ano e mudei para o Jornalismo”.

E foi como estudante de jornalismo que Luiz transformou seu olhar estético e crítico em visão de mundo. “Acredito que a revolução se faz no cotidiano. A construção de um mundo melhor, de um Brasil mais justo e mais igualitário se faz todos os dias e o jornalismo tem um papel fundamental na consolidação da democracia”, concluiu Luiz que caminha pelas esquinas de Campinas com máquinas fotográficas emprestadas, com passos pesados da vida, mas braços prontos para a construção de um mundo melhor.


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Solidariedade Cubana




“Nesta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana”, Fidel Castro.

UNICEF confirma: Cuba tem 0% de desnutrição infantil.

Hoje não há mais analfabetos em Cuba. Segundo o The World Factbook 2007[52], 99.8% da população cubana, acima de 15 anos, sabe ler e escrever.

Em Cuba 85% das famílias são donas de suas próprias casas - portanto não pagam aluguel - e os 15% restante pagam de aluguel 1 ou 2 dólares mensais.


Dados do Ministério de Saúde Pública cubano mostram que o país tem o menor índice de mortalidade infantil da América Latina. O número coloca Cuba em segundo lugar em todo o continente americano.

Estas informações mostram que o povo cubano tem a garantia de seus direitos: moradia, alimentação, saúde, educação e totalmente gratuitos. Nenhum direito é tratado como mercadoria e a prioridade é a sociedade, o coletivo. Para apoiar o sistema, a Associação Cultural José Martí-RJ (ACJM) se solidariza ao povo cubano e promove atividades, fóruns, encontros, convenções, envio de brigadas e estudantes brasileiros que queiram cursar Medicina.

Para iniciar esta nova década, a ACJM envia a XVII brigada sulamericana de solidariedade a Cuba, como tem feito anualmente. Como forma de contribuição ao povo cubano, a Associação em conjunto com o brigadistas faz uma campanha de arrecadação de material hospitalar, como gaze, band-aid, esparadrapo, luvas, etc.

Contribua você também! As doações podem ser feitas em dinheiro ou em material a ser entregue na própria associação, no endereço abaixo.

As doações podem ser feitas em dinheiro por meio da conta da própria Associação:

Banco Itaú, Ag. 6158-0
CC. 02346-2



ou material a ser entregue na própria Associação, no endereço: rua 13 de Maio, 23, salas 1623 e 1624.


Contatos:
Associação Cultural José Marti – RJ
Avenida 13 de maio, 23, salas 1623 e 1624 - Centro - CEP 20031-000
Comunidade no Orkut: Associação Cultural José Martí
acjm_rj@ig.com.br
Tel/Fax : (21) 2532-0557
http://josemartirj.webnode.com/


Ser solidário a Cuba significa ser solidário a todos os povos da América Latina rumo à libertação.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Série - Pílulas do asfalto em náusea

04/01/2010

Teria de aprender a ser lacônica. Tentara em outros tempos. Guardava em si segredos de uma loucura atestada: esconderijo. ABESTADA! E seu desequilíbrio tornara-se egoísmo em tempos de cólera. Seu corpo desértico e ressequido esvaía sal entre poros de uma pele carpideira. Engasgava até vomitar as angústias de um pretérito mais do que imperfeito, momento este em que disfarçava por meio de seus sorrisos de Chaplin uma melancolia visceral.

“Até quando?”, questionava-se.

Até cair da ponte que te pariu. Estatística. Pronto. Foi-se. Sem mais, nem menos e ninguém percebeu... nem mesmo a autora desta pílula.

This is the end my friend