sábado, 20 de janeiro de 2007


Dicionário das Línguas
20/01/2006 - Camila Marins

Solidão
Aquela que você encontra no quarto
Apenas poeira

Amor
Porta-retratos no criado mudo
Às vezes ele fala
Às vezes criado surdo

Saudade
Ressaca do dia seguinte
Por favor, mais glicose

Melancolia
Jantar para um
Na caixa de som Guinga
E depois dormir com meias

Raiva
Hormônios em ebulição
Chaleira que apita
Memória em preto e branco

Sexo
Fruto de super ego
Ou não
Abolir o orgasmo?
Cu

Amizade
Um vestibular com questões dissertativas

Trabalho
Convivência
Um reality show
Melhor que sexo

Imaginação
Chico Buarque dançando dentro de uma gaiola
Fafá de Belém com um terceiro mamilo
Caetano Veloso nu com seus cabelos caralho
Céu verde absinto
Andar na rua e ver todo mundo pelado, olha aquele escroto
Pastores sem salários
Padres com votos de castidade
Sua mãe transa com seu pai
Homens que viram lagartixas
Mulheres baratas
Ou vice-versa
Atenção! O homem nunca foi à Lua!
Open your eyes
Bocetas não têm pêlos
Mas pedem pelos

Homens, mulheres, mundo
Orgia
Ímpar
Mudo, ai o criado de novo não
Corpos em crise
Sexo
Lábios carnudos
Rosa murcha
Toca que te espreme
Espirra

Inteligência
Mais sensível que os orgasmos
Pulso para relógio
Corpo para vestir
Mente para despir
Tudo bem, rimou, mas vá ao dicionário
Minha alma já se apaixonou

Tolerância
Caí de bicicleta
Meu pai tirou as rodinhas
Braço esquerdo
Gesso

Pobreza
Cheiro das fumaças carbônicas
Peixes que bóiam
Água preta
Clorofluorcarboneto saiu da minha vagina
Chupa chupa chupa
E lá se foi o gelo

Riqueza
Uma rede no quintal
Cara ou coroa?
Um livro em branco
Um pé de amoras

Cu
Meu amor
My Dear
Mon amour
Vive enfiado em minha casa
Às vezes na salada
Ou no meu chuveiro
Pinga azeite
Pinga ni mim
Eita pinga marvada
Todos gostam de uma fofoca
Mas prefiro um beijo de Judas
E meu criado blá blá blá
Estrutura de ferro
Bosta pêlos e dedos
Morde
Morde
Duvido que consiga
Cu cu cu cu cu
Somos assim
Cu
Entra e sai
Vai e vem
Uma direção orgânica
E outra orgástica
De quatro
Inspira e expira
Não conseguimos ver
Espelho
Somos assim
Cu
Estilhaçado
Dúbio
Contradição
Mais uma hipótese?
Sim. S
Como diria um amigo: plural ou quem sabe verme?
Cu
Assim escrevo
Pego o cu que começa a lamber o papel em branco
Branco até gozar
Duas letras
Dois corpos
Algo em comum
Opa, um lugar-comum
Cu
Peraí, chega de meias frases, parecem mais palavras usando meias. Vamos direto ao assunto. Cu não se vê, só com espelho ou com seu dedo. Mas pega a caneta e desenha, abaixa as calças e caga, passa um chuveirinho. Quase, quase. Não relute, a vida é assim, uma hora ou outra cu. Portanto, cuidado com o lugar-comum em que todos se metem ou pelo menos querem dar opinião.
- Filho, não esquece de limpar o bumbum
- Amor, passa um chuveirinho?
- Quanto é a depilação anal? Cera quente ou fria?
- Depende, dos pêlos. Lisos ou enroladinhos?
- Puta pentelho hein?
- Que porra é essa?
- Relaxa e goza.
- É hoje, você me convenceu. Vamos passar na farmácia e comprar um KY. Quanto custa?
- Oi gato, quanto é o programa?
- Quanto sai? Quanto entra? Quanto vale? Apenas Cu – cubrum; cobre, alguns cobres no meu bolso nu. Essa é a minha química.
- Ow my ass. Make it.
- Garçom, por favor, uma cerveja e um cu de burro. Obrigada.

Cu.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

ATENÇÃO!!! NOTÍCIA DO DIA


ATENÇÃO!!! NOTÍCIA DO DIA (16/01/2007)

Correio Popular: "Hélio proíbe animais em vias pavimentadas "


“Algumas éguas chegam a parir no asfalto e cavalos carregam cargas sangrando”, exemplificou o vereador Feliciano

Cavalo de Pau - Camila Marins 16/01/2007

Hoje contarei uma historinha, talvez conhecida, mas perdida na memória de muitos. Lalá morava em uma vila com pequenas casas, talvez até tocas, portas ovais e grades. Ela não tinha cobertores, roupas e muito menos mordomia. Todos os dias recebia uma tigela com um pouco água e um punhado de mato. Carne? mal conhecia o sabor, às vezes conseguia algum osso. Lalá tinha apenas dez anos, tinha poucos amigos e não sabia o que era a vida.
Do lado de fora da vila, morava Zezé em um condomínio com casas grandes, talvez até mansões, portas quadradas e muros altos. Todos os dias tomava leite integral e comia um bom pedaço de bife. Essa já era sua rotina, comia o quanto quisesse, tinha roupas elegantes, jóias, brinquedos de pelúcia, amigos e aprendia a viver a cada dia. Lalá e Zezé tinham a mesma idade.
Depois de passado um tempo, Lalá engravidou e um dia já fora das grades da vila as dores se anunciaram. No meio do asfalto, sua placenta pingava até que no cruzamento pariu. De lá, foram retirados e levados para as grades novamente. Zezé continuava a viver em sua mansão, cercado de caprichos e mordomias.
Enquanto isso, na esquina da vila, um menino no semáforo, maltrapilho, nariz escorrendo, manchas brancas no rosto queimado de sol e pés rachados. No entanto, sua aparência não influenciava sua arte. Sinal vermelho e o espetáculo começa. Malabares, acrobacias e um monociclo. Da vitrine do pára-brisas, motoristas podem observar a cena. Sinal verde, hora de abaixar o vidro e retribuir ou não. Quem sabe um lanche ou então um muito obrigado? Nada de aplausos, o menino recolhe seus instrumentos e corre para a calçada.
No meio-fio, apenas um corpo estendido, enrolado entre papelões e sacos de lixo. Ninguém pára. Vivo ou morto? Ninguém procura. Será que respira? Ninguém sabe, apenas pulam seu corpo e seguem seu caminho. Ninguém liga, ninguém comunica, nenhuma providência. Apenas saltos, ternos, jeans e chinelos. Só a polícia identifica. Está vivo. Deixa para lá, surra ou um prato de sopa? Escolha a porta que mais te agrada.
A rotina se transforma em vidro, vidro da janela do carro que se fecha, vidro das vitrines que te envolvem. Vitrines sim, estamos em uma redoma ou pelo menos, muitos tentam ser assim e cuidado com a blindagem, não é 100%. Abandonaram o outro, aquele, o mesmo da esquina ou do semáforo. Talvez lembrem-se apenas de Zezé, a cachorrinha poodle daquela socialite das colunas sociais. Merece até aniversário, jóias e perfume.
Mas há quem lembre de Lalá, a égua parideira do asfalto. De lá foi banida e proibida de puxar papelão que envolve corpos no meio-fio. No asfalto, não querem mais ver éguas, cavalos ou bois, mas na escola quando veremos nossas crianças do semáforo?