terça-feira, 8 de junho de 2010

espelho Metade de mim




espelho Metade de mim


Parafraseava Cazuza no canibalismo noturno

08/06/2010


Sabia que o mundo a comeria. Por isso, resolveu comê-lo antes. Não compreendia as certezas da vida e vivia nas incertezas. Preferia o momento, o carpe diem ao invés de compromissos rasteiros e adiantados. Gozava com a dúvida e, assim como seu último suspiro de prazer, morria aos poucos. Uma eterna contradição. Incompreensível em sua mais pura sinceridade e injustificável rebeldia. Assim era sua arte. Nada prometida, nada casta e inteiramente maculada. Procurava a metade do mito de Platão e se perdia em lamentações de Prometeu. Estava acostumada com a solidão, breve poeira do criado mudo. Silêncio. Seu maior temor era o sussurro. Não suportava o intermediário. Para ela, era ser ou não ser. E era... pelo menos, costumava ser. Entre poesias e drinks baratos, a lua em tom depressivo lhe acompanhava. Era triste. Sem motivo, mas era triste. Gostava de sorrisos e fingia os próprios. Quase um Chaplin na corda bamba, entre sorrir para a plateia, chorar pela própria alma e temer a queda. Ai que dó. Ai de mim.

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