sábado, 27 de setembro de 2008

Tempos

27/09/2008


não tenho tido tempo
o tempo tem me tido
metido nesta vala comum das horas
metido a Vírginia Woolf
talvez até metido a Proust

não tenho tido tempo
o tempo tem me tido
me dito horas que passam
me dito aquilo que não foi
o que passou?
as horas
Ah, Vírginia!

não tenho tido tempo
o tempo tem me tido
esse abismo tem me engolido
mas as horas, um dia, terminam.
foram meses de flerte com o relógio
o tempo continua e eu?
o que será do tempo?
o mesmo:
passados, pretéritos
perfeitos, imperfeitos ou mais que perfeitos


sexta-feira, 12 de setembro de 2008

MANIFESTO EM DEFESA DA LIBERDADE DE OPINIÃO E PELA RESPONSABILIDADE DO JORNALISTA


“A ética não é uma condição ocasional
e deve acompanhar sempre o jornalismo,
como o zumbido acompanha o besouro”,
Gabriel Garcia Márquez, jornalista e escritor


Em um dos momentos mais sombrios da história deste país, um punhado de militares, aliados aos interesses do grande capital e da elite retrógrada e autoritária, impôs à sociedade brasileira um período de restrição às liberdades individuais, políticas e sociais. Dizer a verdade, denunciar a truculência do regime militar, enumerar os problemas sociais brasileiros ou, simplesmente, ter uma opinião contrária a dos dirigentes do país era sinônimo de prisão, atentados contra a vida ou até mesmo a morte.

Esse momento foi superado e esperamos que jamais se repita neste país ou em qualquer lugar do mundo. Por outro lado, infelizmente, o sentimento autoritário, arrogante e retrógrado de parte da sociedade brasileira se mantém.

Na manhã do último dia 26 de agosto, no jornal Gente da Rádio Bandeirantes AM de Campinas, o comentarista José Arnaldo Canesim acompanhado pela jornalista Zezé de Lima, explicitou esse lado autoritário, arrogante e retrógrado. Ignorando a história deste país, e até mesmo desrespeitando a opinião alheia e ridicularizando a grande personalidade que é Millôr Fernandes, José Arnaldo deu uma declaração infeliz que revela seu completo descaso com a história e o significado dos Anos de Chumbo e o sentido de “Oposição”. Oposição, José Arnaldo, é defender a liberdade de opinião; a liberdade de não se sujeitar às vozes autoritárias do setor retrógrado e elitista que você representa. Oposição é não se sujeitar às forças que querem calar as vozes discordantes. Isso é a defesa da Democracia.

Millôr Fernandes soube representar muito bem essa defesa da Democracia ao afirmar: “Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”.

Ao tecer comentários depreciativos à colega de profissão Camila Marins, José Arnaldo ignorou o Código de Ética do Jornalista e não questionou a conduta profissional, apenas a insultou ao vivo em programa de rádio. Talvez tenha feito tal insulto exatamente por não poder criticá-la por sua conduta profissional, que Camila Marins executa de forma séria, honesta e responsável. Camila Marins sabe de sua responsabilidade enquanto assessora de imprensa, como diz no artigo 4º do Código de Ética do Jornalista: “A prestação de informações pelas instituições públicas, privadas e particulares, cujas atividades produzam efeito na vida em sociedade, é uma obrigação social”.

Ao contrário, José Arnaldo não respeita os limites de sua responsabilidade enquanto formador de opinião, ao tentar ridicularizar a defesa da Democracia feita por Millôr Fernandes e ao insultar sua colega de profissão Camila Marins. José Arnaldo, enquanto representante de uma das maiores emissoras deste País, deveria saber que objetividade é um mito, ou seja, um jornalismo neutro significa um pout-pourri de hipocrisia, uma vez que o jornalista assimila os fatos a partir de sua própria subjetividade. Exemplo disso é a decisão do que se torna notícia ou não. Ainda que seja uma tradição histórica e cultural, inclusive citada nas universidades, a neutralidade não pode ser vendida aos leitores, ouvintes, telespectadores e internautas como verdade absoluta, pois não o é. De uma forma ou de outra, o jornalista está intrinsecamente ligado às matérias que produz e, por isso, afirmamos que não existe jornalista neutro. Exigimos que os órgãos de classe do Jornalista tomem as providências cabíveis, para indenizar moralmente Camila Marins e impedir que novos ataques à nossa história se repitam. O direito de resposta à Camila Marins e a retratação pública de José Arnaldo são ações mínimas que aguardamos.

A conquista de nossa frágil Democracia não pode ser um elemento para que a liberdade de opinião seja utilizada de forma irresponsável, principalmente quando se trata dos jornalistas, que têm um papel fundamental na consolidação do regime constitucional.

A fiscalização do poder público e da ética profissional são obrigações a qualquer pessoa cidadã que deseja construir um país cada vez mais democrático e que aceite toda a diversidade de opiniões. É isso que faz, enquanto cidadã, Camila Marins. Enquanto profissional competente e ética executa seus compromissos com rigor e elegância, não se sujeitando às vozes autoritárias que tentam desrespeitá-la. Camila Marins, ao contrário de José Arnaldo, busca construir uma sociedade justa e democrática, que respeite a diversidade de opiniões e idéias. O respeito à história, à diversidade de opiniões, às críticas é elemento indissociável de qualquer sociedade que queira construir um futuro melhor.

Nós, que aqui nos manifestamos, repudiamos o desrespeito, a ofensa, a arrogância e o autoritarismo do jornalista José Arnaldo. Sabemos que não representa a expressão da maioria dos profissionais dessa área e que, exatamente por isso, não pode se manter impune.

· José Arbex Jr.
Jornalista e autor dos livros Showrnalismo - A Notícia Como Espetáculo e O jornalismo canalha, da editora Casa Amarela. Trabalhou vários anos na Folha de S. Paulo, quando chegou até editor da editoria Mundo. Arbex foi editor-chefe da do jornal Brasil de Fato, criado no Fórum Social Mundial de Porto Alegre. É doutor em história social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Atualmente Arbex é editor especial da revista Caros Amigos (editora Casa Amarela), uma das mais importantes revistas de esquerda do Brasil;


. Plínio de Arruda Sampaio
É diretor do jornal Correio da Cidadania, veículo de imprensa independente da cidade de São Paulo, desde 1996. Professor, promotor, advogado, duas vezes deputado, Plínio também é um histórico dirigente político deste País.

· Mário Augusto Jakobskind
Jornalista e Escritor. Foi colaborador dos jornais alternativos Pasquim e Versus, repórter da Folha de S. Paulo (1975 a 1981) e correspondente da Rádio Centenária de Montevideo, além de editor de Internacional da Tribuna da Imprensa (1989 a 2004) e editor em português da revista cubana Prisma (1988 a 1989). Atualmente é correspondente do semanário uruguaio Brecha e membro do conselho editorial do Brasil de Fato. É autor, entre outros, dos livros América Que Não Está na Mídia (Adia, 2006), Dossiê Tim Lopes - Fantástico/Ibope (Europa, 2004), A Hora do Terceiro Mundo (Achiamê, 1982), América Latina - Histórias de Dominação e Libertação (Papirus, 1985) e Cuba - apesar do bloqueio, um repórter carioca em Cuba (Ato Editorial, 1986).

· Douglas Mansur
Mestre pelo Programa de Integração da América Latina da Universidade de São Paulo PROLAM/USP, Filósofo, Professor Universitário de Fotojornalismo do Curso de Especialização do Núcleo José Reis - ECA/USP e da Oficina de Projeto da PUC-SP. Integrante do NERA (Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária) da UNESP/ Presidente Prudente (SP). Membro do CEDECA- Interlagos-SP Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Interlagos Repórter Fotográfico.

· João Zinclar
Repórter Fotográfico;

· Angelo Emílio da Silva Pessoa
Doutor em História Social pela Universidade Estadual de São Paulo - USP;
Professor de História da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul;

· João Alexandre Peschanski
Editor da Boitempo; integrante do Comitê de Redação da Revista Margem Esquerda – Ensaios Marxistas; Mestrando em Ciência Política pela USP; trabalhou como editor do Jornal Brasil de Fato;

· Marcelo Buzetto
Professor da Universidade Metodista de São Bernardo do Campo e na Fundação Santo André; Doutorando em Ciências Sociais pela PUC/SP; Núcleo de Estudos Latino Americano – NELAM

· Luiz Bassigio
Secretário do Grito dos Excluídos Continental;

· Hamilton Octavio de Souza
Jornalista e Professor da PUC/SP;

· Igor Ojeda
Jornalista; Correspondente do Brasil de Fato em La Paz (Bolívia);

· Angela Mendes de Almeida
Coletivo Contra a Tortura; Página Observatório das Violências Policiais – SP;

· Vito Giannotti
Núcleo Piratininga de Comunicação;

· Givanildo Manoel da Silva
Coordenador do Fórum Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente;

· Heder de Souza
Secretaria Direitos Humanos PSOL/SP;

· Carlos Alberto Lobão Cunha
Professor do Instituto de Geociências da Unicamp;

· João Pedro Stédile
Direção Nacional do MST;

· Alípio Freire
Jornalista do Jornal Brasil de Fato;

· Nalu Faria
Psicóloga; Coordenadora geral da Sempreviva Organização Feminista (SOF) e integrante da Secretaria Nacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil.

· Heleno Correa Ficho
Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp;

· Flávio Higuchi
Arquiteto;

· Valéria Medeiros de Castro
Coletivo de Mulheres Trabalhadoras do Vale do Paraíba;

· Edson Antônio Albertão
Vereador e candidato a Prefeito pelo PSOL – Guarulhos / SP;

· André Ferreira
Geógrafo pela Unicamp;

· Francisco Carneiro de Fillipo
Economista; Mestre em Economia / Instituto de Economia da Unicamp;

· Fábio Marvulle Bueno
Economista; Mestre em Economia / Instituto de Economia da Unicamp;

· Tatiana Merlino
Jornalista do Jornal Brasil de Fato;

· Altamiro Borges
Jornalista; Membro do Comitê Central do PCdoB;

· Iracema Moura

· Ortega
Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp;

· Ivan Valente
Deputado Federal PSOL / SP;

· Carlos Giannazi
Deputado Estadual PSOL / SP;

· Raul Marcelo
Deputado Estadual PSOL / SP;

· Reginaldo Euzébio
Jornalista;

· Fórum de Lésbicas, Gays, Travestis, Transexuais, Bissexuais (LGTTB) de Campinas

· Fábio Guzzo
Jornalista, sociólogo e funcionário Unicamp;

· Eudes Lima
Jornalista;

· Denis Prado Forigo
Camará Comunicação e Educação Popular;

· Cristina Alvares Beskow
Camará Comunicação e Educação Popular;

· Jefferson Vasques Rodrigues
Camará Comunicação e Educação Popular;

· Bruno de Oliveira Pregnolatto
Advogado;

· Paulo Bufalo
Engenheiro, professor, vereador e presidente do PSOL Campinas;

· Marcela Moreira
Vereadora PSOL Campinas e membro do Conselho Editorial do Jornal Brasil de Fato;

. Inês Paz
Vereadora PSOL Mogi das Cruzes

. Cordeiro
Vereador PSOL Carapicuiba

· Denise Simeão
Jornalista e coordenadora de projetos da produtora COT (Centro Organizativo dos Trabalhadores);

. Lucas Vega
Curta-metragista, Superoitista, diretor do Festival de Cinema Super 8 de Campinas, Cinegrafista e Professor.

. Leonardo Bianchin Betti
Diagramador

. Temístocles Marcelos
Secretário-Executivo do FBOMS - Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento e Coordenador da CNMA-CUT

. Bruno Ribeiro
Jornalista

. Diego Riquelme
Produtor de TV e vídeo

. Elcio de Souza Magalhães
Engenheiro Agrícola, educador popular, formador de economia solidária, militante do movimento popular, PSOL, corrente Guerilha Popular Aurora Socialista, mandato popular e socialista Marcela Moreira

· Carolina Cristina Mantovani Ferreira
Jornalista, poeta e editora de vídeo;

. Lucas Abeid Pontes
estudante de jornalismo, integrante do coletivo Vídeo Kulatra e militante da Guerrilha Popular Aurora Socialista.

. Alexandre Baquero Lima (Ari)
Bancário da Nossa Caixa

. André de Oliveira Guerrero (PLOC)
mestrando em Química na Unicamp

. Artur Monte Cardoso
estudante de Economia da Unicamp

. Bruno Modesto Silvestre
estudante de Educação Física da Unicamp

. Caio Matsui
estudante de Economia da Unicamp

. Carlos Augusto Peres (Carlão)
Educador esportivo

. Carolina Barboza Gomes Figueiredo Filho (Carolzinha)
estudante de Ciências Sociais da Unicamp

. Ciro Matsui Jr.
estudante de Medicina da USP

. Cristiane Anizéti dos Santos
estudante de Direito da ESAMC

. Daniel Gomes Paes
estudante secundarista

. Daniel Monte Cardoso (Biltre)
estudante de Economia da Unicamp

. Danielle Iwamamura Brandenburgo Consolino
estudante de Midialogia da Unicamp

. Diana Nascimento Moraes Novaes
estudante secundarista

. Estevan Almeida Thiesen
estudante de Filosofia da Unicamp

. Felipe Monte Cardoso (Belém)
Médico

. Gabriela Chiareli de Sousa
estudante de Pedagogia da Unicamp

. Gabriela Menegatti
estudante de Fonoaudiologia da Unicamp

. Gislaine Cristina Oliveira
funcionária da Unicamp

. Guilherme Sarausa de Azevedo
estudante de Engenharia Civil da Unicamp

. Heitor Martins Pasquim
mestrando em Educação Física na USP

. Iuriatan Felipe Muniz
Técnico em Computação e estudante de Ciências Socias da Unicamp

. Kássio do Nascimento Moreira
estudante secundarista

. Larissa Nadine Ribka
médica

. Leonardo Simões Freire
estudante de Economia da Unicamp

. Marcelo José Azevedo
engenheiro de alimentos

. Mariana Conti Takahashi
cientista social e candidata a vereadora pelo PSOL Campinas

. Mariana Jafet Cestari
professora de Língua Portuguesa e estudante de Lingüística

. Mariana Leite Figueiredo
Cientista Social e estudante de Direito da FACAMP
Mariana Zuaneti Martins (Mari FEF) - funcionária da Unicamp estudante de Educação Física da Unicamp

. Marina Mitie Kawanishi
professora de Educação Física

. Michel Fernando Pena
estudante de Química da Unicamp

. Natalia Cristina Soares de Souza (Pepa)
estudante secundarista

. Patrícia Rocha Lemos (Pat)
funcionária da Unicamp

. Paulo Alécio Nied Júnior
estudante de direito da FACAMP

. Paulo Eduardo de Lima Gouveia
membro da Executiva Municipal do PSOL Campinas

. Pedro Alberto Vicente de Oliveira
estudante de Geografia da Unicamp

. Potiguara Mateus Porto de Lima
professor de Biologia

. Ravi Nascimento Novaes
estudante secundarista

. Renata Guelfi Rossini
estudante de Pedagogia da Unicamp

. Ricardo Costa (Xisinho)
estudante de Educação Física da USP

. Ricardo Vieira Cioldin
membro da Executiva Municipal do PSOL

. Rodrigo Alves do Nascimento (Digão)
estudante de Letras da Unicamp

. Ronald Alexandre Giraldelli
PSOL Campinas

. Sérgio Henrique de Oliveira Teixeira
estudante de Geografia da Unicamp

. Thalita Cristina Souza Cruz
estudante de Letras da Unicamp

. Thamiris Raquel Matias
estudante de Pedagogia da Unicamp

. Vitor Augusto Monteiro Pelegrin
estudante de Geografia da Unicamp

. Reginaldo Alves do Nascimento
estudante de Letras da Unicamp

. Elisa Coelho
estudante de letras da Unicamp

. Lunara Francine
estudante secundarista

. Nôva Brando
estudante de Pedagogia da Unicamp

. Denise Vasques
estudante de Saneamento Ambiental da Unicamp

. Rodolfo José Viana Sertori
estudante de Construção Civil da Unicamp







domingo, 7 de setembro de 2008

PERFIL DO DIREITISTA BRASILEIRO

Extraído do blog do jornalista Bruno Ribeiro , também autoria de Idelber Avelar

1. Ao contrário dos direitistas europeus e norte-americanos – patrióticos ao ponto da xenofobia – o direitista brasileiro odeia o Brasil. É curioso, porque nenhuma direita traz tantas marcas do seu lugar de origem como a brasileira.

2. O direitista brazuca sofre de profunda nostalgia. Entende-se: ele um dia teve Paulo Francis. Hoje deve contentar-se com Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo. Ou seja, já completa uma geração em total orfandade de gurus. Anda tão carente que seu mais novo mestre é um auto-intitulado "filósofo" de cujo trabalho nenhum profissional de filosofia jamais ouviu falar.

3. Os direitistas tupiniquins em geral se dividem em dois grupos: os raivosos e os blasé. Os primeiros vociferam em blogs, lançam insultos, ordenam que os adversários se calem ou se mudem para Cuba. Reagem histericamente à própria infelicidade. Os segundos, em busca de uma elegância copiada de algum filme gringo, intercalam em suas frases expressões inglesas já completamente fora de uso. Reagem esquizofrenicamente à sua infelicidade, à sua incapacidade de reconciliarem-se com o que são.

4. O direitismo brasileiro costuma ser um grande clube do Bolinha. Tem verdadeiro pânico das mulheres, especialmente das mulheres fortes, seguras, profissionalmente bem-sucedidas. Estas últimas costumam ter o poder de fazer até mesmo do blasé um raivoso.

5. O direitista tupiniquim adora lamber as botas de Bush. Numa época em que até vozes do conservadorismo tradicional norte-americano reconhecem o caráter da mentirada sobre a qual se sustenta Bush, o direitista daqui ainda defende o genocídio praticado pelos EUA no Iraque.

6. O direitista tupiniquim tem pânico de discutir questões relacionadas a raça e etnia. Quando aflora qualquer conversa sobre a discriminação racial ou sobre o lugar subordinado do negro na sociedade, ele raivosamente acusa os interlocutores de estarem acusando-o de racista. Para essa “vestida de carapuça” Freud inventou um nome: denegação. É a atitude preferida do direitista quando o tema é relações raciais.

7. O direitista brasileiro louva e idolatra o mercado, mas curiosamente pouquíssimos espécimens dessa turma se estabeleceram no mercado com o próprio trabalho. É mais comum que herdem um negócio do pai, recebam via jabaculê o emprego que terão pelo resto da vida ou, mais comum ainda, que concluam a quarta década de vida morando com a mãe e tomando toddyinho.

8. O direitista brasileiro ainda acha que todo esquerdista é aquele tipo folclórico que não toma coca-cola, usa camiseta do Che Guevara e defende ditaduras comunistas, com uma bolsa de lona à tiracolo.

9. O direitista brasileiro tem certeza de que a ameaça comunista ainda é uma realidade a ser considerada no mundo e, portanto, deve ser combatida. Ele acha que existe um plano para implantar uma ditadura de esquerda em escala planetária envolvendo Lula, Hugo Chavez, Evo Morales, Fidel Castro, as FARC e o MST.

10. Na visão do direitista brasileiro, qualquer grevista não passa de baderneiro. Para a direita, a ordem se sobrepõe à Justiça, os interesses individuais são mais importantes que os interesses coletivos. Os movimentos sociais devem ser criminalizados. Os índios não merecem a demarcação de suas terras porque são vagabundos. Os negros têm de saber qual é o seu lugar. Os pobres são pobres porque não têm capacidade para enriquecer.

sábado, 6 de setembro de 2008

Hoje um poema faz aniversário


06/09/2008

Hoje um poema faz aniversário
entre canções e serenatas
Hoje um poema faz aniversário
depois de 425 cartas amontoadas
Hoje um poema faz aniversário
tentou abrir os envelopes
Hoje um poema faz aniversário
puro papel desmanchado
Hoje um poema faz aniversário
e quase caiu no esquecimento
Hoje um poema faz aniversário
enquanto tulipas fenecem num quarto barato
Hoje um poema faz aniversário
aqueles trilhos, aquelas gavetas de Clarice
Hoje um poema faz aniversário
quem sabe com um sorvete de melão escorrendo pelos lábios
Hoje um poema faz aniversário
músicas de Guinga e versos de Quintana
Hoje um poema faz aniversário
gritando Liberdade pelas ruas do Centro de São Paulo
Hoje um poema faz aniversário
entre Caetanos e Bethânias
Hoje um poema faz aniversário
e crianças dançam pelas ruas daquele bairro oriental
Hoje um poema faz aniversário
entre vinhos e cigarros
e o poema sabe que, um dia, passará em branco
assim como as cartas de outrora
papel em branco
o poema envelhece e se vai
as letras se vão ‘no sumidouro do espelho’.

Solte minhas amarras querido Bergman!


terça-feira, 2 de setembro de 2008

O riacho

Camila Marins – 02/09/2008

Fitou-me o riacho. Curvas turvas seduziam sua inconsciência, enquanto eu ainda lembrava-me de quem eu era. Uma palavra. Um gesto. Um olhar. Uma poesia. Qualquer coisa. Refutava-me a experiência. Refutava-me a amnésia. Refutava-me esse estado de coisas. Cruel, minha memória insistia em se perder de mim mesma. Lembranças fugidias. Quem? O quê? Por quê? Ainda a me olhar, o riacho seguia a melodia em bemol. E o riacho tornava claro seu fado. Um manancial em branco. Um manancial retirado. E tudo aquilo que o riacho prometera outrora foi-se. Ajoelhei-me à sua beira e lágrimas preencheram tuas curvas. Curvas turvas que carregam este pranto abandonado. Mas, ao seu redor, as flores ainda brotam em caules marejados.