sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Respeito aos profissionais “sem veículo”

Livre exercício da profissão. Aprendemos isso na faculdade para garantir o direito de exercer nosso ofício. Nós, jornalistas, fomos protagonistas do processo de redemocratização do país nos tempos mais sombrios da ditadura militar. Fomos perseguidos, torturados, censurados e retaliados. Com o fim da ditadura e o passar dos anos diante da conjuntura política e social, a imprensa avançou e também recuou. Isso porque conquistamos a liberdade de expressão, o direito do livre exercício da profissão, mas também lidamos com o monopólio da mídia e o controle dos empresários.

Mas não tenho o objetivo de falar sobre estas questões nesse relato. Quero mostrar minha indignação a certas situações de desrespeito e desvalorização do trabalho alheio. Tenho o costume de participar de atividades e eventos de movimentos sociais e organizações, cobri-los e divulgá-los, com o objetivo de contribuir pela democratização da comunicação. Recentemente, fui cobrir um evento e quando fui me credenciar como freella, a jornalista foi enfática: “Mas não dá para credenciar sem veículo”. Quando fui explicar a história, já começou a burocracia e antes que eu começasse a discursar pelo livre exercício da profissão, ela me credenciou e pediu para eu esperar lá embaixo junto com o público, enquanto os jornalistas “de veículos” entravam e escolhiam lugares estrategicamente. Detalhe: eu estava com equipamento e precisava de tomada e, mesmo assim, não pude entrar.

Esta não foi a única situação, já passei por várias outras e sei bem que outros colegas de profissão passaram por isso. Eu compreendo a importância de audiência, da publicidade da informação, mas, todos nós, estamos exercendo nossas profissões, tanto os “jornalistas de veículos”, como nós, jornalistas “sem veículo” em prol de um ideal, de uma causa. Não quero aqui atacar um ou outro profissional, mas clamar por respeito. Merecemos direitos iguais e estamos todos juntos, nessa seara de exploração do trabalho. Afinal, quantos jornalistas ganham realmente o piso, têm a jornada de trabalho devidamente respeitada e todos os direitos garantidos? Pois é, estamos no mesmo barco. Somos trabalhadores iguais, “de veículos” ou não. Fica aqui a minha indignação pela falta de respeito a nós, profissionais “sem veículo” comprometidos com uma sociedade mais justa, solidária e igualitária. E digo: o meu veículo é a SOCIEDADE!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

olhar de perdição ou salvação




20 de janeiro


Quase fui assaltada. Na loja Casa e Vídeo, localizada na Praia de Botafogo. Por volta das 22h30. Havia passado o dia em retiro budista, fui ao cinema e, em seguida, fui comprar uma antena para minha TV nova. Situações pelas quais milhares de pessoas no país estão excluídas. R$34,99 foi o valor da antena. Paguei com uma nota de R$100 e, no momento em que a caixa estava para me retornar o troco, fui abordada por um menino que mal batia no meu ombro. Ele me mostrava moedas em suas mãos e me pedia R$1 para comer. Cheguei a olhar para os lados em busca de alguma comida, mas os caixas dessas lojas só tinham balas e chocolates. Suas mãos tremiam, estavam sujas, percebi a sujeira por baixo de suas unhas, percebi seus dedos magros e delicados, percebi suas veias.

Ele usava um boné meio de lado, tinha os lábios ressecados, a pele negra, os olhos arregalados e o desespero estampado. Essa criança - inocente – escondia-se dentro de um corpo calejado tragado pelas drogas. Não sabia bem o que falava ou fazia e, ao notar os seguranças se aproximando, rapidamente veio para cima da minha carteira. E, quando eu ia tentar acalmá-lo, fui interceptada e, praticamente, inerte a qualquer ação, haja vista a reação das pessoas no entorno. Então, vi aquela mão no ombro do menino, questionando e o impedindo de vir para cima de mim. Tentaram me proteger, mas essa atitude dolorosa incitou ainda mais a violência natural que o abuso das drogas proporciona. Começamos a ser ameaçadas, pois estava com uma amiga. Os seguranças o levaram para fora e ainda me atentei para que não batessem nele. A criança explanava palavrões e prometia se vingar. Dizia: “Quer ver se você não vai me dar essa carteira? Vem aqui fora, que eu vou pegar de qualquer jeito e quero só ver”. Imediatamente, uma das caixas veio até mim e disse para esperar um pouco para sair, pois o garoto chamaria sua turma para nos assaltar ou fazer coisa pior.

E eu vi o olhar dessa criança: de desespero, um olhar vazio e profundo no total desconhecido. Claro que tive medo nesse momento. Não iria mais pegar o tradicional ônibus para a Lapa na praia. Teria que entrar em um táxi, mas como? O medo me tomou e os seguranças disseram: “Vai logo por aqui, entra em umas ruas e vai entrando pelo bairro que tudo vai ficar bem”. Nessa altura do campeonato, apressamos o passo até a esquina e pegamos o primeiro táxi.

O que quero questionar é: violência se paga com violência? Ok, posso acreditar demais no ser humano, mas acredito que uma simples conversa ou tentativa de acalmá-lo pudesse fazê-lo mudar de ideia. Afinal, quem em sã consciência entraria em uma loja e abordaria alguém na boca do caixa? Principalmente, quando seguranças estavam prontos a interceptá-lo? Estava fora de si. Uma criança perdida, destinada a “brincar” de esconde-esconde de si mesma e da própria sociedade. É claro que critiquei minha amiga por ter me defendido e interceptado a criança daquela maneira, pois eu não acredito nessa reprodução de comportamentos. Mas, também compreendo a atitude dela, pois vivemos numa sociedade regida pelo medo.

A mudança deve partir de nós mesmos, em primeiro lugar. Isso, é claro, se quisermos nos organizar numa sociedade mais justa, solidária e igual. Deixei minha amiga em casa e disse ao taxista: “Fica difícil ter esperança num mundo desses”. E ele, generosamente, acalentou minha alma: “Não. Eu tenho esperança sim. É só o que nos resta, porque, um dia, quero ter o orgulho de dizer para o meu neto que, sim, fiz parte dessa mudança. Fiz parte do processo de mudança para uma sociedade melhor”. Pronto, era isso que eu precisava ouvir para dormir melhor. Boa noite a todos.


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Receita lasanha de atum com leite de coco e requeijão

Receita lasanha de atum com leite de coco e requeijão

A pedidos, disponibilizo a receita da lasanha de atum com leite de coco e requeijão na PANELA


É simples e fácil de fazer. Primeiro, jogue azeite na panela e frite 2/3 de uma cebola grande inteira até ficar transparente. Logo em seguida, jogue duas latinhas de atum e refogue bem. Depois de refogar no fogo médio, mexa bem e, então, acrescente o molho (que pode ser caseiro ou pronto, desde que de boa qualidade). Acrescente pouco menos de um copo de água e deixe ferver bem em fogo baixo. Depois de ferver, acrescente o 1/3 restante da cebola, cheiro verde e sal a gosto. É hora de acrescentar o leite de coco. Para aqueles que gostam, despeje mais da metade da garrafinha, mas não precisa ser tudo. Ou, se preferir, vá acrescentando aos poucos de acordo com sua preferência. Deixe ferver, mexendo sem parar e então deixe no fogo baixo, até terminar de montá-la. Mantenha o molho aquecido. Unte uma panela antiaderente alta com azeite, jogue a primeira camada de molho que deve ser farta para a massa boiar e não grudar no fundo da panela. Então, faça as camadas com molho, massa, molho, queijo mussarela, molho e massa. Vá fazendo esse esquema até a última camada. E, por fim, na última camada de massa, despeje todo o molho e coloque colheiradas de requeijão sobre ela, além de mais um fio de azeite. Tampe a panela e deixe em fogo baixo. Quinze minutos com o fogo ligado e mais 15 com o fogo desligado. Essa não é uma regra, dependerá do seu fogão. Vá conferindo para não queimar no fundo e FOGO BAIXOOOO. Essa é uma receita para ser feita em forno, mas como não tenho fogão, improvisei na panela e deu super certo. Uma das melhores lasanhas que já comi... Depois que fizer, me diga o que achou...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

as costas do cotidiano



06/01/2010

Olhar o outro. As adversidades e os ponteiros acelerados do cotidiano quase nos impedem de tal façanha. Tão difícil dar atenção ao porteiro, ao vizinho, ao colega de trabalho, ao companheiro de luta, ao amigo e até ao affair. Cobranças, além das contas habituais de cama, mesa e banho. Eternas cobranças e os porquês não arredondados pelo reconhecimento do outro. “Você fez isso? Aquilo? Ligou para fulano? Militou? Escreveu? Trepou? Gozou?”. Porra, esses pretéritos nada perfeitos não combinam com esse interrogatório de torturas. Que tal assim: “Como você está? Está realmente bem? É feliz? O que acha do mundo? O que acha de si?”. Não suporto quem cobra sem olhar para as necessidades alheias. Nós, seres humanos, nascemos para cuidar e ser cuidados. Somos assim, carentes em espécie e abandonados pela complexidade do cotidiano. Sim, sou amiga da mendiga da esquina e me acusam de um dia levá-la para casa (diga-se de passagem apertamento, uma quitinete que mal me cabe). Qual o problema de ser solidário? De falar bom dia? De chamar o porteiro pelo nome e perguntar como ele está sem qualquer cobrança condômina? Confio nas pessoas. Acredito no ser humano e o dia que eu perder as esperanças, tenham a certeza de que meu corpo errante se fará em cinzas desse crematório que chamamos mundo.