sábado, 29 de agosto de 2009

21 versos

29/08/2009

sete pecados
sete dias
sete vidas
sete oitavos
sete de espadas
sete cores
sete artes

e na luxúria de deus
nem o mundo se fez
apenas inferno

a poesia amarra e agarra: AMARGA
impõe suas garras
e apaga um arco-íris jamais visto

e a arte?
disseca masturbações ao léu
e quase esconde autoria

pensava na existência
e a libertação lhe era necessária
temia e ardia

“o sarcasmo acorrenta”, gritavam os medíocres.
e ainda sonhava
e como sonhava... Ah! Dali!

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

POR QUE DÓI?


POR QUE DÓI?

28/08/2009


braços longos e mãos delicadas
um corpo anêmico
prestes a beirar o precipício

dores e flores
pranteavam caminhos tortuosos

água salgada que marca a face
e coagula a tristeza
de um coração de Babel

cansei de histórias para dormir
cansei das voltas do mundo
cansei dos pássaros que beijam flores
e quase me canso desse sopro...

enquanto isso
seduzo corpos ardentes em dor
corpos viris desmontados em fragilidade
corpos que quase não se encaixam ao meu
corpos em crise

entre esse vazio da carne
nada sobrou
nem mesmo o eu



quarta-feira, 26 de agosto de 2009

EI DEFUNTO

Remexia-se na cama como defunto na cova.

Ei, defunto

o tempo seduz ponteiros de madeira fria
meras redundâncias contemporâneas...

Ei, defunto

Neruda se confunde com tempos verbais
lombadas de livros deixam ásperas as mãos de Borges.

Ei, defunto

vem, com dissonante voz, vem
alimenta ruídos de meu estômago

ei, defunto

quase me esqueci das entrelinhas esgarçadas
cobre meu corpo com teu manto noturno

e, por fim, descobre a aurora de meu corpo
no fundo de um quarto de Van Gogh

Ei, defunto
Ei, defunto!
Ei, defunto?

A sete palmos lhe beijo a face
quem sabe de amanhã


domingo, 16 de agosto de 2009

LEMBRANÇAS ...





remexendo em poemas antigos...


ABSTINÊNCIA

18/05/2007

abstive sempre
cumpri minha penitência
tive nem um pouco
de clemência

escolhi meu sacrifício
tal qual o cordeiro.
servida em um altar
minha alma na bandeja

deus tentou me convencer
mas apelei para a vogal
A
Adeus

e meu estômago emaranhado
retorcido em seu próprio coito
vazio que tenta renunciar a vogal
Anunciou o jejum

dos sete pecados capitais
que moravam em meu estômago
apenas um se ajoelhava
e no genuflexório pedia remissão.

Em vão

eu, em minha casta idade
queria a luxúria
mas entre minhas coxas
castidade.




sexta-feira, 14 de agosto de 2009

invadindo a poesia

14/08/2009


E a voracidade invadia sua poesia
Em uma perversa maresia
Ouvia músicas francesas em uma varanda qualquer
Enquanto sonhava com seu Van Gogh predileto

Esquecia-se da estética
E rememorava:
Não há forma sem conteúdo
Ou vice-versa
Ainda continha-se nessa dubiedade

Corvos, girassóis e boemia
Alimentavam seu lirismo putanesco
Ainda preferia o francês

E seu vinho denotava portugueses
Perdidos entre colônia e exploração
Apenas coletânea...
Apenas coletânea...
Mera coletânea...


poema em parceria vagabunda com gabriel


14/08/2009

te encontro em outro carnaval
sussurrava...
e você não é a mesma
muito menos você e seus movimentos quase inválidos
numa noite suja de motel
mas naquela época você gostava
põe poesia nas linhas de seu corpo e arranca minha roupa
e se contorce
nesse contorcionismo convalescido

exprimia poesia em pernas nada cruzadas
o maior de seus orgasmos
e os dele (?) eram fingidos

“DEIXA MEU LIRISMO À VONTADE”
Gritava entre quatro paredes
Nada permissivas

e o eu lírico?
Eu?
Você?
A música já predizia:
“A paz é feita no motel, de alma lavada e passada”

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

VIVA FIDEL




Fidel completa 83 anos hoje, dia 13 de agosto!


Viva o comandante! Viva Cuba! Viva o socialismo!

Homenagem a Fidel no site: http://cubaviva.com.br/v1/

LIBERDADE AOS 5 HERÓIS JÁ!!!

HASTA SIEMPRE COMANDANTE!!!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

SOLIDARIEDADE ÀS MULHERES PERUANAS


por Michelle Amaral da Silva última modificação 06/08/2009 11:42- JORNAL BRASIL DE FATO

Líder indígena Lourdes Huanca relata as dificuldades vividas pelas mulheres da Amazônia Peruana e a perseguição a líderanças de movimentos sociais no país

06/08/2009


Fabíola Munhoz
Amazonia.org.br



A presidente da Federação Nacional de Mulheres Camponesas, Artesãs Indígenas, Nativas e Assalariadas do Peru (Femucarina), Lourdes Huanca, concedeu uma entrevista exclusiva ao site Amazonia.org.br. A conversa aconteceu durante passagem da líder indígena pelo Brasil, no mês passado, quando participou de um Encontro Pan-Amazônico, que reuniu cerca de 200 pessoas de nove países amazônicos- Brasil, Venezuela, Bolívia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Suriname, Peru e Colômbia-, em Belém (PA).

Lourdes contou as dificuldades que as mulheres que trabalham no campo e indígenas da Amazônia Peruana enfrentam hoje e disse que está sendo perseguida pelo governo do presidente do Peru, Alan García, correndo o risco de ser presa a qualquer momento por discordar das políticas neoliberais do governante. Confira.

O que trouxe o movimento das mulheres indígenas peruanas ao Brasil?

Lourdes Huanca - Para nós, é muito importante estar em Belém e no Fórum Social Panamazonico. Pudemos ver o que acontece aqui e mostramos o que está se passando em nosso país. Temos que esperar a solidariedade única de todos os povos e de todos os países. Neste momento, não pode haver barreiras. No Peru, a situação está muito crítica porque temos um presidente que é aliado da política neoliberal. Nós lideranças homens e mulheres - estamos sendo perseguidos politicamente. A perseguição dos
dirigentes é tão forte que não sabemos se, ao regressar ao Peru, vamos chegar tranquilas ou seremos detidas.

Por quais direitos as mulheres peruanas da Amazônia lutam hoje?

Lourdes - As mulheres que trabalham no campo e indígenas do Peru estão sendo violentadas. Não há igualdade de tratamento a elas quanto ao salário. A mulher trabalha o mesmo que o homem nas transnacionais do Peru, o homem recebe muito mais do que as mulheres. É uma diferença abismal. Nós lutamos, então, por uma igualdade de oportunidades, de direitos no trabalho. Hoje, nas empresas transnacionais de nosso país, existem 80% de mulheres trabalhando. Elas são exploradas e não tem direito à saúde, ou de ter meia hora, ou uma hora, para almoçar. Por isso, estamos lutando. E corremos perigo porque o governo atual cria leis e decretos a favor dessas grandes empresas transnacionais para que, por exemplo, elas avancem sobre nossas terras para produzir biocombustíveis. Por isso, houve uma grande matança de índios no nosso país em 5 de junho. Seguimos lutando, apesar de correr risco de morte e sermos perseguidas.

Que outras formas de violência as mulheres vêm sofrendo?

Lourdes - Há uma região de nosso país onde estão instalados os paramilitares com a suposta finalidade de erradicar o tráfico de drogas. Esses militares estão abusando sexualmente das nossas jovens. E onde houver militares acontecerá isso porque nós, mulheres indígenas e trabalhadoras rurais, não temos direito a uma vida digna, segundo o governo.

Para García, os trabalhadores rurais e indígenas são da terceira classe. Por isso, os soldados fazem o que bem entendem. Em 1985, no primeiro governo do atual presidente, houve um massacre, uma matança de camponeses. Quando saímos à mobilização, os paramilitares saem a disparar e a matar. Nosso temor é que voltem a se apropriar de nossos direitos e a violentar nossa dignidade, abusando de nossas meninas. Há um problema muito grande em nosso país, e penso que em toda a América Latina onde tenha penetrado a política neoliberal.

Por que as mulheres indígenas e camponesas são contra os últimos decretos criados pelo governo de Garcia?

Lourdes - As leis que estão sendo feitas em nosso país são criadas contra os campesinos e indígenas e violentam o direito desses povos a ter uma vida digna. De acordo com a convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), deveria ser assegurada a proteção de toda terra ou território, bem como da cultura, de indígenas e campesinos. Essa convenção, o presidente atual violou porque, como se fosse o grande senhor, ele entrega as nossas terras aos grandes.

No Peru, vocês e outros movimentos sociais são criminalizados?

Lourdes - Como dirigentes, corremos riscos. Temos várias companheiras perseguidas, vivendo na clandestinidade, porque há ordem para que sejam capturadas. Temos um líder campesino que está hoje em risco na floresta amazônica do Peru. Ele recebeu balas no confronte de 5 de junho e sua situação de saúde é delicada. Ele está cercado por polícias e mal tratado psicologicamente agora. Como dirigentes, assumimos esse risco, pois, se não seguirmos lutando, vão privatizar a terra, vão privatizar a água, vão
nos impor à força sementes transgênicas e vão nos tornar consumistas. Assim, nós campesinos e indígenas seremos reduzidos a nada. Mas, não queremos isso. Creio que só lutando podemos conseguir o respeito e a soberania do nosso país.

Quais são os grupos perseguidos pelo governo Garcia hoje?

Lourdes - São movimentos indígenas e do campo. Há também companheiros da cidade. Todos são dirigentes que, como nós, reclamam por justiça e pedem que não se venda a terra e não se privatize a água. Dizem que somos terroristas porque saímos pelas ruas a nos mobilizar. Por isso, para nós, hoje, regressar ao Peru é um pouco preocupante. Recentemente, quando um
companheiro nosso, também líder campesino, voltava ao Peru, foi detido no aeroporto. Nós não sabemos como estará quando estivermos voltando. Nossas companheiras peruanas nos dizem para que tenhamos cuidado porque pode haver ordens de detenção contra nós. Mas, não sabemos de nada porque eles não avisam, não dão antes uma notificação. Só vão lá e te detêm.

Como vocês estão convivendo com a perseguição do governo?


Lourdes - Sabemos que nossas companheiras que estão clandestinas vêm sendo protegidas por outras companheiras solitárias. Um de nossos companheiros, o líder indígena Alberto Pizango [atualmente refugiado na Nigarágua] não se encontra com a gente em nosso país. Preferimos que ele se refugiasse em outro lugar porque, se ele fosse detido, sua vida correria perigo. Caso detido, ele não seria somente preso, mas também torturado e morto. Tememos que também nos detenham e nos façam esperar na cadeia que a Justiça venha nos libertar porque é injusto que nos prendam. Outro temor é que nos torturem, ou nos matem e depois façam parecer que foi tudo um simples acidente, ou uma briga entre bandidos do cárcere.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

SALVAÇÃO OU PERDIÇÃO
10/08/2009


Levantava degraus hercúleos pelo caminho. Seus tornozelos estalavam a insuficiência de seu equilíbrio.



Degraus entre o paraíso e o inferno – PURGATÓRIO


Tenta intenta
cabula o depois de amanhã
e passa a perna nessa vida bolorenta
FÉTIDA!


Degraus entre o paraíso e o inferno – PURGATÓRIO


7 pecados?
Somente o capital restou
E, mesmo assim, ninguém se salvou.


Degraus entre o paraíso e o inferno – PURGATÓRIO

Tenta intenta
bebe néctar de falsos deuses
e a existência continuará isenta


Degraus entre o paraíso e o inferno – PURGATÓRIO


Confundia-se entre o jazz e a bossa nova

Tenta intenta
E tripudia sonhos na alcova


Degraus entre o paraíso e o inferno – PURGATÓRIO

e diante de deus e do diabo, quem se salvou?


domingo, 9 de agosto de 2009

Noite parisiense ao bombardeio


Noite parisiense ao bombardeio




09/08/2009

“Eles que comam brioches”
E seu libertário homem
Em capa vermelha
Lhe apresentava dauphins?
Oh Antonieta?
Chora a dor do parto em leito convalescente
Enquanto pobres sonham com migalhas
“E eles que comam brioches”
Não! Não às amas de leite! Não às governantas!
Pero hay que governar
Completamente incompreendida
e alienada pela Corte
e quem era?
Apenas uma puta (quase descoberta) dada a um sueco
Maria Antonieta

a sentença está posta

e não tenha medo

não chore meu filho

não chore minha filha

assim será

Amém


domingo, 2 de agosto de 2009

ÚLTIMO TANGO EM PARIS


ÚLTIMO TANGO EM PARIS
Homenagem para Bertolucci

02/08/09



Perdidos em uma noite de boemia parisiense
tergiversavam fantasias pelas escadas de um prédio andarilho
enquanto a gorda mulher gargalhava daquele pseudo affair
pensavam: é possível gozar sem se tocar?
apertavam os olhos em busca de prazeres imagináveis
a sagrada família vociferava hipocrisias da história

e quem eram?
Nada mais ou nada menos que um homem e uma mulher
Um homem? Uma mulher?
apenas sexo. Dois sexos que não se diferenciavam
e nenhuma questão de gênero

entre a manteiga que escorria entre sexos
alucinavam suicídios de virgens
rolavam pelo chão
e como crianças celestiais, ainda pensavam:
é possível gozar sem se tocar?

trançavam pernas
e em seu último tango
entre o sagrado e o profano
entre o ritual e o fugaz
entre champanhe e uma punheta famélica
a morte anunciou o fim

carne, sexo, estômago

esvaindo sangue em uma varanda exangue

Nada mais ou nada menos que um homem e uma mulher
Um homem? Uma mulher?
apenas sexo. Dois sexos que não se diferenciavam...





sábado, 1 de agosto de 2009

Meu canto

01/08/09


Eu canto a dor que varre corpos esquizofrênicos. Corpos que mal se sustentam em pés frágeis de bailarinas de covis. Eu canto o desmascarar de poses mal refletidas em lentes convexas. Eu canto a dor mais pura que ocupa estômagos vazios. Eu canto a dor de uma boceta mal compreendida em encenações shaksperianas. Eu canto toda a contradição deste mundo. Eu canto o passado, o presente, enquanto o futuro permanece engasgado. Eu canto a perdição de amores nada perfeitos, mais do que vagabundos. Eu canto tudo aquilo que lhe parece ridículo e apreendido em orgasmos mal contidos. Eu canto os desejos mais carnais de religiosas em oração. Eu canto a prece nunca ouvida. Eu canto os gemidos de putas bêbadas. Eu canto até que a própria poeta esteja liberta de suas e alheias amarras.