terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A carta que você nunca lerá

17/02/2011

Te amei. Fiz escolhas. Boas ou ruins. Apenas o tempo dirá. Nunca tive a intenção de te magoar. Assumo meus erros e minhas falhas mais perversas. Não sou a mulher maravilha que você, um dia, idealizou. Nunca fui A mulher dos seus sonhos. Sou uma libertária incorrigível. Sou uma amante da vida. Sou uma amante dos outros. Sou uma amante do mundo. E, mesmo assim, me enrosco em minhas próprias contradições. Busco um mundo melhor. Busco paz entre todos os seres vivos. Busco o amor incondicional ao próximo. E, mesmo assim, magoo meus amigos, magoo minha família, magoo o mundo e magoo você. Não sou de ferro. Não sou a mulher ideal. Não sou quem você sempre sonhou. Sou e não sou. Sou uma mulher mais do que comum, fugindo desesperadamente do senso comum. Não sou mulher de esperar em casa, não sou mulher de me render aos hábitos, não sou mulher de assumir o fim de um relacionamento. Não sou mulher para não te fazer sofrer. E te confesso bem baixinho: todos nós fazemos o outro sofrer; não há como escapar, meu amor. Eu sofri por sua idealização por uma mulher que não existe. Você odiava isso em mim. Você repudiava minha liberdade extrema. Você odiava minha independência. Você odiava minha boemia e amargava em minhas ressacas morais e físicas. Então, o que você realmente amava em mim? Sou uma mulher desenhada em falhas, processos e perdições. Nada do que você sonhava. Eu não posso com amarras excessivas, com algemas da insegurança, com clichês do desrespeito e estávamos andando cegas na corda bamba da desconfiança. Até do seu terapeuta eu tive ciúmes. E você dos meus e-mails, uma internet tão tentadora, que não revelou nada além do esperado: o desrespeito nos matava. Éramos um casal atacado pelas diferenças, cada um tentando mudar o outro. E não é bem assim que as coisas funcionam. As identidades começaram a gritar e o meu Eu, tão sufocado, pediu pelo fim... doloroso fim. A rejeição trouxe agressões. Você disse que me odiava e que jamais me perdoaria por ter desistido dessa forma. Mas, meu amor, você já me odiava muito antes da separação e não reconhecia. Você odiava meus hábitos e não hábitos, você odiava minhas carências e não carências, você odiava meu espírito libertário ou não, você odiava meus discursos políticos ou não, você odiava minhas distrações ou não, você odiava minha poesia ou não. Você já me odiava... Nos violentamos na separação e agora, o que nos resta? Mágoas? A mim me resta o perdão. Perdoar a mim mesma por te fazer sofrer, por ser tão incapaz de continuar, por ser tão covarde nesse fim, por ser tão fraca em noites de boemia, por ser uma bêbada tresloucada de final de semana, por ser uma mulher politicamente correta repleta de contradições e falhas, por ser incoerente, por ser tão estúpida. Ainda te amo e, por isso mesmo, não posso mais. E, por exatamente isso, peço seu perdão e sei que você ainda vai me castigar por muito tempo, vai me culpar. Afinal, alguém precisa cumprir o papel de vilã nessa história, não? Que eu assuma esse papel, pois já me vitimizei demais nessa vida. Assumo sem qualquer pudor minha tirania. E peço do fundo do coração e com as minhas melhores energias, perdão... perdão... Hoje, minhas lágrimas se confundem com seu cheiro ainda impregnado em minha roupa de cama. Sempre me lembrarei de nossas risadas, nossas bebedeiras, nosso sexo, nossas extravagâncias, nossas viagens, nossos melhores momentos. Serão essas as lembranças que levarei para sempre comigo. Aquilo que ninguém, nem mesmo você com sua compreensível raiva, poderá arrancar. Tudo isso sempre estará em mim e envolto de ternura e carinho. Para o amanhã? Apenas o perdão... Que perdoemos a nós mesmos e depois um ao outro. Mesmo sabendo que você pode não ler essa carta, escrevo. Porque em meus escritos estão as minhas verdades, com as contradições expostas e as falhas assumidas. E é aqui que nossos sonhos em conjunto terminam...

Um comentário:

Pablo Amaral disse...

Simplesmente sublime!