quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Banquete antropofágico

24/02/2010

Vomitava latências de um mundo não compreendido. Entre advérbios e gramáticas mal explicadas da vida, arranhava Villa-Lobos pelos corredores. Já quis engolir o mundo. Fazia assim: abria bem as pernas e enfiava tudo. Tudo mesmo. Certo dia, tal qual Zeus, pariu. Pariu pelas coxas. E percebeu que o mundo se esvaía e escorria pelos esgotos de um submundo inventado, que nada mais era do que sua própria alma. Carregava a pedra da culpa nos ombros e rolava pelas esquinas numa dança quase esquizofrênica. Seu corpo metamorfoseava o balanço de cabeças reticentes e as lamúrias onomatopéicas de seres sem vida. Cansava desse ciclo parideiro de (con)sequências ou não. Em sua boceta nada mais cabia, nem mesmo seus sonhos... e suas coxas, já flácidas, se confundiam em contornos de uma placenta forjada. Assim era o mundo... entre máscaras, placentas, úteros numa maternidade quase mal resolvida. Éramos parideiros de nós mesmos. Antropofágicos da vida. Comíamos o mundo pelas bocetas. E no palco meio iluminado, meio escuro, entre sombras e luzes, fez-se o primeiro olhar. A dor era inevitável. Num dado momento, não mais paria. Enjoava. Enjoava. Inchava. Inchava. Repetia. Repetia. Alucinava. Alucinava. E... e . finalmente, vomitava penúrias de uma realidade cotidiana e redundante no espelho. Osso e carne. Unha e dente. Enfim, a merda era posta. Sirvam-se todos. Um banquete de si(e).

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