Vick Cristina Barcelona
25/11/2008
Faz algum tempo que não vou ao cinema sozinha. E Woody Allen pedia exclusividade. Foi estranho desta vez. Nem o bom moço estava por lá. Não citarei nomes, mas o tal bom moço é dono de uma bagagem cinematográfica fantástica e passávamos bons momentos comentando os filmes deste tal cinema. E, em muitas das minhas idas, presenteava-me com uma sacola de pipoca. Isso mesmo! Uma sacola de supermercado recheada de pipoca e clandestinidade. Mesmo com esta ausência significativa encarei Vick Cristina Barcelona.
Assim que as luzes se apagaram, a ansiedade me tomava. Fora de seu cenário comum de Nova York, Woody Allen explora Barcelona com destreza. A fotografia da primeira cena já mexia com minhas lembranças. Um muro estampado com cores primárias e um violão sedutor fazem-me lembrar de Almodóvar. Sim! São estilos e linhas completamente diferentes. Não há comparação alguma. Imaginemos Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira. Talvez o clima catalão tenha me envolvido nestas lacunas da memória ou até mesmo a presença de Penélope Cruz, queridinha de Almodóvar. Reforço que o dedilhar lascivo do violão durante a trilha sonora me fez sonhar com Barcelona.
Com seqüência narrativa e uso de off ao longo da montagem, Woody Allen também utiliza técnicas de edição próprias para comédias. E também abusa da arte com variação entre o barroco e o modernismo, desde construções com estilo gótico até a escultura barroca predileta de Juan Antonio. Inclusive, Juan Antonio é o personagem interpretado por Javier Bardem e, sem dúvida alguma, o melhor dos acertos do diretor. Atuação impecável como o excêntrico artista plástico recheado de conflitos, contradições que são reveladas ao longo do filme. Sua essência vai da segurança à tempestuosidade. Aliás, uma das cenas mais comentadas deste filme é o momento que o artista conhece as turistas norte-americanas e as convida para passar um fim-de-semana em uma cidade próxima, sob o pretexto de conhecerem bons restaurantes, tomarem bons vinhos e fazerem amor. Símbolo da tradição e do conservadorismo, Vick sente-se ofendida, mas Cristina se deixa seduzir.
Durante a convivência dos três, as contradições aparecem e os conflitos são revelados. Antes de assistir, alguns me disseram que seria um filme sobre conflitos amorosos. Definitivamente não! São conflitos exclusivamente individuais e existenciais. Sobre ser ou não ser? Somos a partir de quê? Que valores são esses? De onde vem a diferença? Por que a diferença assusta tanto? Questionamentos e mais questionamentos e sem respostas. Talvez, uma única frase de Cristina tenha me acalentado: “Não sei quem eu sou, mas tenho certeza do que não quero ser”.
As luzes se acendem e um senhor de meia idade à minha frente enxuga suas lágrimas. Confesso: nada de mim restou, apenas as lágrimas compartilhadas. E quando me dei conta, o espelho borrava-se com o reflexo da diferença. Apenas eu e cacos de vidro se estilhaçavam pelo chão.
25/11/2008
Faz algum tempo que não vou ao cinema sozinha. E Woody Allen pedia exclusividade. Foi estranho desta vez. Nem o bom moço estava por lá. Não citarei nomes, mas o tal bom moço é dono de uma bagagem cinematográfica fantástica e passávamos bons momentos comentando os filmes deste tal cinema. E, em muitas das minhas idas, presenteava-me com uma sacola de pipoca. Isso mesmo! Uma sacola de supermercado recheada de pipoca e clandestinidade. Mesmo com esta ausência significativa encarei Vick Cristina Barcelona.
Assim que as luzes se apagaram, a ansiedade me tomava. Fora de seu cenário comum de Nova York, Woody Allen explora Barcelona com destreza. A fotografia da primeira cena já mexia com minhas lembranças. Um muro estampado com cores primárias e um violão sedutor fazem-me lembrar de Almodóvar. Sim! São estilos e linhas completamente diferentes. Não há comparação alguma. Imaginemos Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira. Talvez o clima catalão tenha me envolvido nestas lacunas da memória ou até mesmo a presença de Penélope Cruz, queridinha de Almodóvar. Reforço que o dedilhar lascivo do violão durante a trilha sonora me fez sonhar com Barcelona.
Com seqüência narrativa e uso de off ao longo da montagem, Woody Allen também utiliza técnicas de edição próprias para comédias. E também abusa da arte com variação entre o barroco e o modernismo, desde construções com estilo gótico até a escultura barroca predileta de Juan Antonio. Inclusive, Juan Antonio é o personagem interpretado por Javier Bardem e, sem dúvida alguma, o melhor dos acertos do diretor. Atuação impecável como o excêntrico artista plástico recheado de conflitos, contradições que são reveladas ao longo do filme. Sua essência vai da segurança à tempestuosidade. Aliás, uma das cenas mais comentadas deste filme é o momento que o artista conhece as turistas norte-americanas e as convida para passar um fim-de-semana em uma cidade próxima, sob o pretexto de conhecerem bons restaurantes, tomarem bons vinhos e fazerem amor. Símbolo da tradição e do conservadorismo, Vick sente-se ofendida, mas Cristina se deixa seduzir.
Durante a convivência dos três, as contradições aparecem e os conflitos são revelados. Antes de assistir, alguns me disseram que seria um filme sobre conflitos amorosos. Definitivamente não! São conflitos exclusivamente individuais e existenciais. Sobre ser ou não ser? Somos a partir de quê? Que valores são esses? De onde vem a diferença? Por que a diferença assusta tanto? Questionamentos e mais questionamentos e sem respostas. Talvez, uma única frase de Cristina tenha me acalentado: “Não sei quem eu sou, mas tenho certeza do que não quero ser”.
As luzes se acendem e um senhor de meia idade à minha frente enxuga suas lágrimas. Confesso: nada de mim restou, apenas as lágrimas compartilhadas. E quando me dei conta, o espelho borrava-se com o reflexo da diferença. Apenas eu e cacos de vidro se estilhaçavam pelo chão.
10 comentários:
Cami, quem é este tal bom moço???
é um antigo funcionário do cinema, um senhor de bom coração e alma!
ps.: quem é vc?
oi cami... lindas suas palavras sobre o filme... estava afim de ver, agora estou mais ainda... rsss...
bjos...
carol querida assisti duas vezes, acredita??? tenho mais o que escrever, mais mais mais sempre!!!!
é completamente diferente de Match Point ou destes últimos filmes deles, pq confesso que odiei Scoop. Vale a pena flor!!!! beijos
Cami,assisti ao filme, com uma certa expectativa...bem Woody Allen sempre gera expectativa, pelo menos em mim. Concordo com vc, com relação ao tema "conflitos amorosos", são conflitos individuais. Mas gostei, claro, Woody Allen é sempre recomendável.
Oi Camila.Assiti ao filme, mas confesso que criei uma certa expectativa quanto a ele, bem...Woody Allen, sempre causa uma certa expectativa em mim.Concordo plenamente com vc, qto ao fato de não tratar de conflitos amorosos, mas sim, de conflitos existenciais e completamente individuais...ao final tbém me restaram apenas as lágrimas...mas sem dúvida alguma, o filme é recomendável...Woody Allen é sempre recomendável
Lindo, simples, assim!!!
e o moço? era juan?
Oi, você escreve muito bem! Vou locar o filme, deve ser muito bom.
Taty
www.pedagogiaeamor.blogspot.com
Oi, você escreve muito bem! Vou locar o filme, deve ser muito bom.
Taty
www.pedagogiaeamor.blogspot.com
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