Ao cigarro
canção
canção
Bernardo Guimarães
Cigarro, minhas delícias,
Quem de ti não gostarás?
Depois do café, ou chá,
Há nada mais saboroso
Que um cigarro de Campinas
De fino fumo cheiroso?
Cigarro, quanto és ditoso!
Já reinas em todo mundo,
E esse teu vapor jucundo
Por toda parte esvoaça.
Até as moças bonitas
Já te fumam por chalaça !...
Sim; - já por dedos de neve
Posto entre lábios de rosa,
Em gentil boca mimosa
Tu te ostentas com vaidade.
Que sorte digna de inveja!
Que pura felicidade!
Anália, se de teus lábios
Desprendes subtil fumaça,
Ah! tu redobras de graça,
Nem sabes que encantos tens.
À invenção do cigarro
Tu deves dar parabéns.
Qual caçoula de rubim
Exalando âmbar celeste,
Tua boca se reveste
Do mais primoroso chiste.
A tão sedutoras graças
Nenhum coração resiste.
Embora tenha o charuto
Dos fidalgos a afeição,
E do conde ou do barão
Seja embora o favorito;
Mas o querido do povo
És tu só, meu cigarrito.
Quem pode ver sem desgosto,
Esse charuto tão grosso,
Esse feio e negro troço
Nos lábios da formosura?...
E uma profanação,
Que o bom gosto não atura.
Mas um cigarrinho chique,
Alvo, mimoso e faceiro,
A um rostinho fagueiro
Dá realce encantador.
E incenso que vapora
Sobre os altares de amor.
O cachimbo oriental
Também nos dá seus regalos;
Porém nos beiços faz calos,
E nos faz a boca torta.
De tais canudos o peso
Não sei como se suporta!...
Deixemos lá o grão-turco
No tapete acocorado
Com seu cachimbo danado
Encher as barbas de sarro.
Quanto a nós, ó meus amigos,
Fumemos nosso cigarro.
Cigarro, minhas delicias,
Quem de ti não gostará?
Certo no mundo não há
Quem negue tuas vantagens.
Todos às tuas virtudes
Rendem cultos e homenagens.
És do bronco sertanejo
Infalível companheiro;
E ao cansado caminheiro
Tu és no pouso o regalo;
Em sua rede deitado
Tu sabes adormentá-lo.
Tu não fazes distinção,
És do plebeu e do nobre,
És do rico e és do pobre,
És da roça e da cidade.
Em toda a extensão professas
O direito de igualdade.
Vem pois, ó meu bom amigo,
Cigarro, minhas delícias;
Nestas horas tão propícias
Vem dar-me tuas fumaças.
Dá-mas em troco deste hino,
Que fiz-te em ação de graças.
Rio de Janeiro, 1864
Diário de um maço
20 de novembro. Diálogo:
- “Combinado, vou parar de fumar”. – disse a um amigo enquanto tomávamos uma cerveja no City Bar com o cinzeiro lotado.
Não fumo diariamente, apenas com constantes cervejas. No entanto, há algum tempo o cigarro vem me incomodando. Apesar da enorme satisfação que uns tragos proporcionam, ando preocupada com este pseudo vício. Tirarei de cena este companheiro de boemia, por mais difícil que seja.
21 de novembro. Bar com amigos. Depois de algumas horas de resistência, a tentação cai entre dedos. Dou uns tragos. Poucos, mas significativos.
22 de novembro. Ressaca e nenhum cigarro.
Sei que amanhã não fumarei, nem nos próximos dias, mas as famigeradas mesas de bar continuarão na bandeja das tentações...
- Garçom, por favor, mais uma dose!
3 comentários:
mário quintana, em algum lugar, disse algo mais ou menos assim (não lembro com exatidão):
desconfia dos que não fumam, fumar é uma maneira disfarçada de suspirar.
se eu pudesse, voltava a fumar.
:)
É, eu estava me deixando levar pelos cigarros, tentarei dar uma parada... Mas será que resistiremos às tentações???
Saudades de conversar contigo!!!
Quando sairemos para colocar a conversa em dia?
Bjos...
minhas lindas amigas!
saudade de vcs!!!!
ah! o cigarro.. como dói...
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