quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A SARJETA E A MEIA-CALÇA

A sarjeta lhe parecia mais quente que qualquer coito. Aquele meio-fio lhe lembrava sua vida: meia-vida. Sua meia-calça, ali, rasgada da virilha ao tornozelo revelava sua indisciplina. Aqueles olhos, ainda borrados com rímel, expeliam lágrimas de fim de noite. Ainda não sabia em quem confiar: em sua meia-calça ou em seu rímel. Tudo era difícil em seu duro existencialismo de fim de rua. Não sabia mais quem era. Apenas placas lhe apontavam o incerto. PARE, SIGA, VIRE À ESQUERDA. Tudo era uma dúvida. A única certeza que tinha: seu corpo não era mais imaculado. Estava invadido pelos ratos de bueiro e sabia que nem uma oração a salvava. Não que acreditasse em deuses, mas ainda tinha certa esperança. Em seus devaneios mais íntimos, não encontrava saídas, apenas ruas. Arrancou seus sapatos e, em seguida, sua meia-calça que escorregava entre coxas. E, neste mesmo meio-fio, arrancou sua vida. Enforcou-se em meias. Sim! Meias penduradas em postes!

22/10/2008

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