terça-feira, 6 de maio de 2008

Olhos nos olhos


Olhos nos olhos

Camila Marins

Assim que nascemos nossos olhos são os que mais sofrem. A luz incomoda o recém-nascido que, até então, está acostumado à escuridão do útero da mãe. A luz traz à tona um mundo novo. Um admirável mundo novo... A visão é um sentido importante, ora traduz sentidos, ora os transmite. Dizem que os olhos são as janelas da alma. Olhos são temas de inúmeras poesias e músicas e até mesmo tema de inúmeros clichês, mas, de todos, esse é o meu favorito. Existe o “Poema dos olhos da amada”, de Vinícius de Moraes e também há a música “Olhos nos olhos” de Maria Bethânia. E não pense que considero tais obras clichês, ao contrário!

Mesmo com tantas referências aos olhos, nem chegamos a perceber o reflexo deles. Por exemplo, quando caímos ou sofremos algum acidente, a primeira atitude é fechar os olhos. Por que será que fechamos os olhos em momentos de conflito e dor? Talvez seja isso, preferimos fechar nossos olhos. Close your eyes! Cierra los ojos! E assim criamos um escudo. Um escudo, frágil como a placenta e maternal como o útero. Fechamos nossos olhos, talvez para nos refugiarmos à lembrança de proteção que o útero nos dava quando ainda éramos fetos. Feche seus olhos! Você! Apenas você!

A deusa mais bela dos olhos, com certeza, é a lágrima. Poucas foram as vezes que chorei de felicidade. E muitas foram as de tristeza. Ah, o choro... Esse sal que insiste em marcar faces. A primeira lembrança de meu primeiro choro foi quando caí de uma bicicleta rosa e quebrei o braço. Às vezes lacrimejamos. Lacrimejamos com grãos. Grãos incômodos que arranham a retina... Talvez o choro seja um álibi. Um álibi do sofrimento. Mas chorar de felicidade é uma delícia. Como é bom verter em lágrimas felicidade intensa e sincera. São momentos tão raros que, quando acontecem, nos trazem uma belíssima sensação orgástica.

Lembro-me de quando fui assistir ao filme “Piaf – Um Hino ao Amor”, uma bela obra sobre uma artista fantástica e completa. Na infância, Piaf teve uma saúde muito frágil e ficou algum tempo sem enxergar. Lindas foram as cenas de adaptação da menina ‘cega’ – temporariamente -, suas brincadeiras e, principalmente, suas percepções do mundo. Uma sensibilidade que emociona os olhos mais duros. E, talvez por um milagre, ou simplesmente fé, Piaf volta a enxergar e reconhece o mundo que está à sua volta. Nem preciso dizer que chorei absurdamente o filme inteiro. Não somente pelos olhos, como também pelas lembranças que vinham ao cerrar os olhos. Lembranças de um amor não tão vivido, porém intenso, talvez o maior amor do mundo. E a primeira vez que chorei de felicidade foi por amor! Chorar de felicidade por amor é um orgasmo indescritível. Chega dessas linhas subversivas de saudade. Quantos devaneios ainda sou capaz de escrever?


Provérbio do Saci:
Amai e amai
hasta siempre, amai

3 comentários:

Anônimo disse...

Vc não lembra de mim, mas eu lembro de vc...

Quem será q sou???

DICA: 1, 2, 3, 4!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

O Desbunde disse...

ahá!!!!
claro que eu sei quem é... gordinho!!!

sabe o que eu lembro???

Cenas de matrix em Salto!!! rs tarde inesquecível essa não??

ah, quando à dica, nem me lembre!!!! credo....

qdo vem para campinas tomar uma cerveja???

bjão e saudade!!!

Carolina Cristina disse...

Amei Piaf!!! Chorei horrores também... Outro filme maravilhoso é do Ray Charles... Aquele é de verter rios de lágrimas...
Bjos...