sábado, 24 de novembro de 2012

Linhas sem sentido





24/09/2012

Para ela, a única saída ainda era a fuga. Desde pequena, recolhia seus livros e cadernos e corria para casa. Não para os braços de sua mãe, mas para as páginas de alguma teoria fora da sua idade. Cresceu sem o confronto. Intelectualizou-se. Reconheceu a sua armadura contra os conflitos da vida. Mal percebera quando se tornou uma chata teórica beirando a arrogância pedante. Tornou-se linha fria, que não fazia sentido. Só havia sentido se tivesse leitores e não os tinha. O único sentido real era a continência metódica para a dor. Era um daqueles livros rejeitados no final da biblioteca. Um livro sem imagens, sem textura, apenas preto no branco. Tinta escorrida sem sentido e sem final. O fim era branco e talvez esperasse por uma única cor. A cor que sempre quis todos esses anos, a cor da presença, a cor do outro. Mas seu final era mais vermelho. Foi incapaz de escrevê-lo por si mesma ou pelos outros. Em suas veias encontrou o começo. Suicidou-se, rasgando-se nas redundâncias silábicas. E o era uma vez nunca poderia fazer sentido numa vida sem contexto e sem personagens.

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