24/09/2012
Para ela, a única saída ainda era a fuga. Desde pequena,
recolhia seus livros e cadernos e corria para casa. Não para os braços de sua
mãe, mas para as páginas de alguma teoria fora da sua idade. Cresceu sem o
confronto. Intelectualizou-se. Reconheceu a sua armadura contra os conflitos da
vida. Mal percebera quando se tornou uma chata teórica beirando a arrogância
pedante. Tornou-se linha fria, que não fazia sentido. Só havia sentido se
tivesse leitores e não os tinha. O único sentido real era a continência
metódica para a dor. Era um daqueles livros rejeitados no final da biblioteca. Um
livro sem imagens, sem textura, apenas preto no branco. Tinta escorrida sem
sentido e sem final. O fim era branco e talvez esperasse por uma única cor. A cor
que sempre quis todos esses anos, a cor da presença, a cor do outro. Mas seu
final era mais vermelho. Foi incapaz de escrevê-lo por si mesma ou pelos
outros. Em suas veias encontrou o começo. Suicidou-se, rasgando-se nas
redundâncias silábicas. E o era uma vez nunca poderia fazer sentido numa vida
sem contexto e sem personagens.
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