A espera em negrito
11/11/2012
Esperava sempre pelo negrito no e-mail. Aquilo poderia
significar o novo. A mensagem esperada por dias, semanas. Alternava entre o
e-mail e a rede social. Fica na expectativa do som do bate papo. Não lia mais
nada. Não ouvia nada e ninguém. Na primeira semana, comia compulsivamente. Panela
de brigadeiro, bolos de padaria, potes de sorvete de dois litros. Sua geladeira
vivia em assalto compulsório da alma. Comia na frente do computador, enquanto o
teclado alimentava baratas e moscas. Não atendia mais celular. Ia e voltava do
trabalho muda e calada. Mal dormia. Rivotril era o seu único amigo nesse
momento. Na segunda semana, começou a perceber que não tinha mais e-mail,
mensagem. Nada. Ela havia mandado a primeira mensagem há três semanas e sem
resposta. A dúvida a matava a cada dia e, agora, não comia mais e emagrecia. Imaginava
que aquele poderia ser o relacionamento certo. Aquele relacionamento do tempo
postergado. Aquele relacionamento dos filhos. Aquele relacionamento da
conchinha na cama. Aquele relacionamento da pizza de domingo. Aquele relacionamento
do cheiro no cangote. Aquele relacionamento do banho matinal cotidiano. Aquele relacionamento
com o qual sonhava, mas nunca iria existir. Depois de quase um mês sem reposta,
sem sinal, sem mensagens, sem evolução e sem mudanças, percebeu, finalmente,
que nada iria existir. Nem seus sonhos, nem seus relacionamentos imaginados,
nem ela mesma. Se a vida era vazia, por que a dela seria diferente?
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