quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

as costas do cotidiano



06/01/2010

Olhar o outro. As adversidades e os ponteiros acelerados do cotidiano quase nos impedem de tal façanha. Tão difícil dar atenção ao porteiro, ao vizinho, ao colega de trabalho, ao companheiro de luta, ao amigo e até ao affair. Cobranças, além das contas habituais de cama, mesa e banho. Eternas cobranças e os porquês não arredondados pelo reconhecimento do outro. “Você fez isso? Aquilo? Ligou para fulano? Militou? Escreveu? Trepou? Gozou?”. Porra, esses pretéritos nada perfeitos não combinam com esse interrogatório de torturas. Que tal assim: “Como você está? Está realmente bem? É feliz? O que acha do mundo? O que acha de si?”. Não suporto quem cobra sem olhar para as necessidades alheias. Nós, seres humanos, nascemos para cuidar e ser cuidados. Somos assim, carentes em espécie e abandonados pela complexidade do cotidiano. Sim, sou amiga da mendiga da esquina e me acusam de um dia levá-la para casa (diga-se de passagem apertamento, uma quitinete que mal me cabe). Qual o problema de ser solidário? De falar bom dia? De chamar o porteiro pelo nome e perguntar como ele está sem qualquer cobrança condômina? Confio nas pessoas. Acredito no ser humano e o dia que eu perder as esperanças, tenham a certeza de que meu corpo errante se fará em cinzas desse crematório que chamamos mundo.



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