Redundância pertinente
Camila Marins – 16/03/2008
Talvez panfletário, certamente redundante. Talvez essa seja a possível definição para esse texto que pretendo lhes apresentar. O tema é bastante comum em meus escritos. Hoje, um domingo de ressaca, um bom dia de pijama, estava eu sapeando alguns canais na TV quando deparo-me com o documentário “Preto e Branco”, no Canal Brasil. Uma película que discute a questão racial no Brasil. Capa da Veja: “O sucesso dos vencedores”, advogado, ex-presidente de uma multinacional francesa e negro. Esse é o perfil de uma das fontes apresentadas no documentário que afirma o seguinte: “Não acredito que exista preconceito racial no Brasil. Uma única vez, entrei com o carro na contramão, os policiais me pararam e recebi um tratamento muito bom”. Outra cena interessantíssima é o almoço em família. Os filhos discutindo a questão racial e o preconceito. A filha diz: “Eu me sinto incomodada quando entramos em um restaurante chic e todos nos olham”. O pai, ignorando o preconceito, responde: “Não, minha filha, não é preconceito. As pessoas vão a restaurantes para serem vistas”. Ela discorda e reafirma: “Meus amigos só aceitam porque convivem conosco desde criança”. O pai discorda veementemente da filha e acha que é coisa da cabeça dela. Algumas outras fontes apontaram que não é a questão racial no Brasil e sim o debate de classes. Pergunto-lhes: quem é a população pobre? Quem é a maioria? Senhoras e senhores. Companheiras e companheiros. Bem-vindos à realidade. São os negros! Mesmo diante deste fato, não dá para ignorar a discriminação RACIAL! Em todas as escolas que estudei e até mesmo na faculdade, sempre fui a mais “escura” entre os colegas, mesmo me declarando negra. Nem professores, diretores ou alunos negros, apenas faxineiros, motoristas, cozinheiros. Mudei de escola umas 3 vezes, por mudança de cidade, e o preconceito é realmente perceptível. Não adianta declarar que não é preconceituoso se, por ventura, a pessoa se surpreende com a presença de negros em instituições de ensino ou no trabalho. Geralmente, existe uma ‘concessão’ para tal, ou seja, se a negra ou o negro possuírem certa legitimidade na sociedade serão aceitos e essa pseudo-aceitação declara o preconceito velado. Essa legitimidade atribuo a alguns fatores, tais como: poder aquisitivo, status social, tradição da família, prêmios, certos méritos, entre outros. A questão racial só é ‘aceita’ a partir desses fatores, porque, infelizmente, o preconceito existe e há um vício sintomático da população em velá-lo. Os fatos estão aí: quantas mulheres negras recebem atendimento médico adequado? A maioria delas mal são tocadas. Quantos negros são revistados violentamente por policiais todos os dias? Quantos negros estão na universidade? Quantos negros estão na política? Quantos negros estão no comando de empresas? Defendo o sistema de cotas na universidade como medida inicial. No entanto, é preciso investimento em políticas públicas sérias que realmente atendam ao negro. Não podemos negar esse velo do preconceito, é preciso discutir e debater com a sociedade. A negação, neste caso, é muito perigosa, pois pode ser precedente para assassinatos, espancamentos e exclusões. Ontem à noite estive em uma festa de formatura e contei no dedo os negros ali presentes. Quando fui ao banheiro, quem estava lá limpando? Uma negra! Uma negra pedindo, discretamente, que levássemos alguns salgadinhos para ela comer, enquanto ela limpava os papéis higiênicos sujos desse ‘evento burguês’ que reafirma a exclusão. Por mais que esse tema pareça redundante em minhas discussões, acredito que precisamos debater até que haja conscientização. Hoje, a ressaca bateu, o tempo fechou, a redundância continuou a me incomodar...
Alma não tem cor - Karnak
Alma não tem cor
Porque eu sou branco
Alma não tem cor
Porque eu sou negro
Branquinho, neguinho
Branco, negon
Alma não tem cor
Porque eu sou branco
Alma não tem cor
Porque eu sou jorge mautner
Percebam que a alma não tem cor
Ela écolorida
Ela é multicolor
Azul, amarelo, verde, verdinho, marrom
Cê conhece tudo, cê conhece o reggae
Cê conhece tudo né, cê só não se conhece
Camila Marins – 16/03/2008
Talvez panfletário, certamente redundante. Talvez essa seja a possível definição para esse texto que pretendo lhes apresentar. O tema é bastante comum em meus escritos. Hoje, um domingo de ressaca, um bom dia de pijama, estava eu sapeando alguns canais na TV quando deparo-me com o documentário “Preto e Branco”, no Canal Brasil. Uma película que discute a questão racial no Brasil. Capa da Veja: “O sucesso dos vencedores”, advogado, ex-presidente de uma multinacional francesa e negro. Esse é o perfil de uma das fontes apresentadas no documentário que afirma o seguinte: “Não acredito que exista preconceito racial no Brasil. Uma única vez, entrei com o carro na contramão, os policiais me pararam e recebi um tratamento muito bom”. Outra cena interessantíssima é o almoço em família. Os filhos discutindo a questão racial e o preconceito. A filha diz: “Eu me sinto incomodada quando entramos em um restaurante chic e todos nos olham”. O pai, ignorando o preconceito, responde: “Não, minha filha, não é preconceito. As pessoas vão a restaurantes para serem vistas”. Ela discorda e reafirma: “Meus amigos só aceitam porque convivem conosco desde criança”. O pai discorda veementemente da filha e acha que é coisa da cabeça dela. Algumas outras fontes apontaram que não é a questão racial no Brasil e sim o debate de classes. Pergunto-lhes: quem é a população pobre? Quem é a maioria? Senhoras e senhores. Companheiras e companheiros. Bem-vindos à realidade. São os negros! Mesmo diante deste fato, não dá para ignorar a discriminação RACIAL! Em todas as escolas que estudei e até mesmo na faculdade, sempre fui a mais “escura” entre os colegas, mesmo me declarando negra. Nem professores, diretores ou alunos negros, apenas faxineiros, motoristas, cozinheiros. Mudei de escola umas 3 vezes, por mudança de cidade, e o preconceito é realmente perceptível. Não adianta declarar que não é preconceituoso se, por ventura, a pessoa se surpreende com a presença de negros em instituições de ensino ou no trabalho. Geralmente, existe uma ‘concessão’ para tal, ou seja, se a negra ou o negro possuírem certa legitimidade na sociedade serão aceitos e essa pseudo-aceitação declara o preconceito velado. Essa legitimidade atribuo a alguns fatores, tais como: poder aquisitivo, status social, tradição da família, prêmios, certos méritos, entre outros. A questão racial só é ‘aceita’ a partir desses fatores, porque, infelizmente, o preconceito existe e há um vício sintomático da população em velá-lo. Os fatos estão aí: quantas mulheres negras recebem atendimento médico adequado? A maioria delas mal são tocadas. Quantos negros são revistados violentamente por policiais todos os dias? Quantos negros estão na universidade? Quantos negros estão na política? Quantos negros estão no comando de empresas? Defendo o sistema de cotas na universidade como medida inicial. No entanto, é preciso investimento em políticas públicas sérias que realmente atendam ao negro. Não podemos negar esse velo do preconceito, é preciso discutir e debater com a sociedade. A negação, neste caso, é muito perigosa, pois pode ser precedente para assassinatos, espancamentos e exclusões. Ontem à noite estive em uma festa de formatura e contei no dedo os negros ali presentes. Quando fui ao banheiro, quem estava lá limpando? Uma negra! Uma negra pedindo, discretamente, que levássemos alguns salgadinhos para ela comer, enquanto ela limpava os papéis higiênicos sujos desse ‘evento burguês’ que reafirma a exclusão. Por mais que esse tema pareça redundante em minhas discussões, acredito que precisamos debater até que haja conscientização. Hoje, a ressaca bateu, o tempo fechou, a redundância continuou a me incomodar...
Alma não tem cor - Karnak
Alma não tem cor
Porque eu sou branco
Alma não tem cor
Porque eu sou negro
Branquinho, neguinho
Branco, negon
Alma não tem cor
Porque eu sou branco
Alma não tem cor
Porque eu sou jorge mautner
Percebam que a alma não tem cor
Ela écolorida
Ela é multicolor
Azul, amarelo, verde, verdinho, marrom
Cê conhece tudo, cê conhece o reggae
Cê conhece tudo né, cê só não se conhece
4 comentários:
queridissima, te conto:
eu posso andar com todas as panafernálias de universitária pela unicamp, com todas possiveis. sempre tem sempre algum sempre desavisado que sempre induz que eu seja funcionária da unicamp.
nada contra os funcionários da unicamp, nada mesmo. o problema está sempre na pequena surpresa sempre do desavisado quando eu aviso que não, sou estudante.
Sobrinha querida (ou será irmâ mais velha?),
o tema é pertinente e, claro, o Brasil com seu racismo encolhido, enrustido no armário da hipocrisia, finge que nada vê. Eu só discordo dos radicalismos de alguns movimentos que querem mudar a situação pela semântica. Por exemplo, eu conheço gente que não admite que falemos "vamos deixar claro", "vamos esclarecer?" ou magia negra e mulata, todas palavras e expressões que conotam racismo. No seu texto, vc mesma usou "negação" - também não pode. Quem do povão e das altas rodas sabe que mulata vem de mula? Só estudiosos do tema. Ninguém chama uma negra de mulata querendo chamá-la de mula, é palavra naturalmente incorporada ao vocabulário sem ninguém saber da origem preconceituosa do termo. Não mudaremos a face terrível do preconceito pela semântica, Então, ninguém poderá dizer perto de nós que está amarela de fome porque temos um ancestral chinês, combinado? Não, não está. Como jornalista, cronista e galhofeiro acho o politicamente correto um saco, uma merda. Mas pro racismo e o preconceito da exclusão nota zero. Beijos do Jace Theodoro.
Fantástica minha nega..
Muito criativa e poetica..
Nota mil Camis..
te amo linda
bjao
Carolzinha
Oi Camila, que me indicou seu blog foi a Ilzinha. Gosto das coisas q leio. Vc escreve de uma forma muito vísceral. "Eu quero que esse canto torto feito faca, corte a carne de vocês"
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