domingo, 20 de março de 2011

A jornada das sete horas ou o 5 + 2

Por Elaine Tavares – jornalista

O sindicato dos trabalhadores jornalistas tem, reiteradas vezes, recebido pedidos de informação sobre a questão do intervalo de uma hora para quem faz jornada de sete horas nas empresas de comunicação. Cabe, então, tecer alguns comentários sobre esse tema no geral, para, depois, entrar no detalhe da questão do intervalo. Em primeiro lugar, é bom que fique claro que a jornada de trabalho para jornalistas é de cinco horas. E isso não é um número jogado ao acaso. Essa jornada significa muitos anos de lutas sistemáticas para conquistar esse direito. É que o trabalho do jornalista é coisa estressante demais.

Estudos sobre a saúde do jornalista dão conta de que as enfermidades que mais acometem estes profissionais são: doenças cardíacas, ansiedade, alcoolismo e depressão. Não é para menos. Os jornalistas vivem um cotidiano recheado de estresse. É o acúmulo de trabalho, a pressão por conta do tempo final (as matérias têm de ser entregues numa determinada hora), más condições de trabalho, a loucura dos trânsitos caóticos, os problemas com equipe de trabalho, e, além do mais o cara-a-cara com a vida real, seja nas suas tragédias cotidianas ou na impotência da política. Assim, as cinco horas já são uma carga imensa de adrenalina, tensão e responsabilidade.

As empresas de comunicação, visando garantir uma superexploração do trabalho e buscando driblar a lei, oferecem ao trabalhador a “opção” de fazer uma jornada de cinco horas, mais duas, num total de sete horas. A lei prevê que, caso o trabalhador aceite o pacto, isso é possível. Mas a lei também prevê que haja um intervalo de uma hora no meio da jornada para que o trabalhador possa descansar e se alimentar. Ou seja, para quem sabe contar, o profissional acaba ficando as mesmas oito horas na empresa e ainda trabalha muito mais. Afinal, na jornada de oito horas o descanso é de duas horas. Então, esse acordo que os patrões empurram goela abaixo aos trabalhadores é a concretização deste palavrão que costumamos usar, buscado na obra teórica do economista Ruy Mauro Marini: superexploração.
Não bastasse isso, existem algumas redações que ficam completamente fora de mão, o que obriga os trabalhadores a ficarem confinados dentro das empresas. O resultado é que fazem um lanche e seguem trabalhando, sem respeitar a parada de uma hora.

O sindicato sabe que a maioria dos trabalhadores, na verdade, não tem escolha. Ou assinam o contrato de sete horas, ou tem uma fila enorme esperando para assumir a vaga. Então é coisa difícil de resistir. Mas seria de bom alvitre que os jornalistas pudessem pensar sobre isso. Não valeria a pena se rebelar contra isso? Uma rebelião coletiva? Todos se negando a assinar o contrato, exigindo as cinco horas? Utopia? Pode ser, mas é ela que tem de ser o nosso horizonte. As cinco horas, repetimos, não é um número ao acaso, elas dão conta de uma jornada de trabalho que permite minimamente a qualidade de vida.

Mas, se não houver jeito mesmo, e o contrato de sete horas for assinado, é preciso defender com unhas e dentes o descanso de uma hora. Mesmo aqueles que ficam confinados. Procurem usar essa uma hora para lanchar e descansar, para fazer uma boa conversa sobre o trabalho, sobre as condições com que estão realizando as tarefas, sobre as lutas que precisam ser travadas. Exijam a uma hora. É direito, e faz com que a “maquininha” chamada vulgarmente de “corpo” possa recarregar as baterias. Não importa se não há para onde ir. Há que parar. Fazer meditação, cantar um mantra, conspirar contra os patrões. Qualquer coisa. Essa hora é um direito.

Alguns colegas pedem para o sindicato que negocie o fim desta uma hora, que a jornada seja corrida. Não poderíamos fazer isso. E não simplesmente porque é a lei. É que sabemos o quanto a jornada de sete horas pode ser estressante e demolidora.

Então, a proposta que concretamente colocamos aqui é essa. A luta pelas cinco horas. Isso é fundamental. Enquanto os trabalhadores seguirem aceitando esse acordo explorador, as coisas seguirão como estão. Os patrões têm a lei, e os trabalhadores não têm sequer organização. E isso não é uma coisa que o sindicato tem que fazer pelo trabalhador. Isso é luta política, coletiva. Não é coisa de uma direção ou uma vanguarda. Ou se assume a luta conjunta ou a exploração segue. O sindicato é guarida e alavanca de organização.

E, enquanto a jornada de sete horas existir, façam valer o descanso. Ele é necessário. Uma olhada no estudo do médico Roberto Heloani, disponível na página do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina (http://www.sjsc.org.br/noticias_det.asp?cod_noticia=1183), já dá mostra do que é a vida do jornalista e como ele pode adoecer por não observar a necessidade de um bom ambiente de trabalho e um descanso real. Jornalista é trabalhador e como tal deve fazer valer suas bandeiras de luta.

Por Elaine Tavares – jornalista

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