sábado, 26 de junho de 2010

para distrair e abstrair

Três dicas de filmes que assisti recentemente

- Tudo pode dar certo, Woody Allen - maravilhosamente e cartesianamente lindo! Sensibilidade à flor da pele preta...

- O Segredo dos teus olhos, Juan José Campanella - história digna para contos de meio da madrugada! muito bom o roteiro!

- Bonequinha de luxo, Blake Edward - adoro este tipo de filme, a interpretação e as expressões faciais bem demarcadas e quase exageradas me fazem sorrir... adorei!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Reflexão sobre o dia dos namorados



Reflexão sobre o dia dos namorados

15/06/2010

12 de junho e o amor está no ar. É dia dos namorados e os casais planejam programas românticos: jantares, viagens, motéis. E, da mesma forma, casais gays celebram o dia, mas a história muda um pouco de rumo. Algumas histórias.

I
Duas meninas entram em um restaurante na Avenida Atlântica e pedem:

- “Mesa para duas, por favor”.

E o maitrê, desconfiado, lhes indica a mesa no fundo do bar e sequer as olha diretamente e mal são atendidas. Olhares por todos os lados e mal podem segurar na mão uma da outra.

II
- “Amor, vamos para a serra curtir o friozinho do dias dos namorados?”

Roberto reserva um quarto de casal para passar um final de semana romântico com Paulo. Quando chegam ao hotel fazenda, duas camas de solteiro. Roberto telefona para a recepção e diz que enfatizou que era um quarto para casal e a recepcionista lhe diz:

- “Não entendi, a reserva não era para dois homens?”

Paulo e Roberto juntam as camas e embalam no frio da serra.

III
Véspera de dia dos namorados: lojas lotadas, cartões com dizeres e imagens heteros; constrangimento na compra.

IV
Andam de mãos dadas. Se amam. Os olhos brilham de paixão e admiração pelo outro. Não podem se beijar no táxi. Não podem se abraçar na rua. Não podem enlaçar os dedos sobre a mesa de algum restaurante. Não podem dar flores em público para sua namorada ou para o seu namorado. Não podem dividir o mesmo talher na hora da sobremesa. E quem disse que não pode? Eles podem dizer não, mas devemos exigir RESPEITO! O amor é o mesmo, não importa a orientação sexual e a opressão dói e corrói. Foi-se o tempo da clausura em guetos gays e igualdade é fundamental para a construção de uma sociedade realmente solidária e fraterna. Liberdade e respeito sempre!



terça-feira, 8 de junho de 2010

espelho Metade de mim




espelho Metade de mim


Parafraseava Cazuza no canibalismo noturno

08/06/2010


Sabia que o mundo a comeria. Por isso, resolveu comê-lo antes. Não compreendia as certezas da vida e vivia nas incertezas. Preferia o momento, o carpe diem ao invés de compromissos rasteiros e adiantados. Gozava com a dúvida e, assim como seu último suspiro de prazer, morria aos poucos. Uma eterna contradição. Incompreensível em sua mais pura sinceridade e injustificável rebeldia. Assim era sua arte. Nada prometida, nada casta e inteiramente maculada. Procurava a metade do mito de Platão e se perdia em lamentações de Prometeu. Estava acostumada com a solidão, breve poeira do criado mudo. Silêncio. Seu maior temor era o sussurro. Não suportava o intermediário. Para ela, era ser ou não ser. E era... pelo menos, costumava ser. Entre poesias e drinks baratos, a lua em tom depressivo lhe acompanhava. Era triste. Sem motivo, mas era triste. Gostava de sorrisos e fingia os próprios. Quase um Chaplin na corda bamba, entre sorrir para a plateia, chorar pela própria alma e temer a queda. Ai que dó. Ai de mim.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Direito à memória e à verdade: hora de abrir as páginas desta História




DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE: HORA DE ABRIR AS PÁGINAS DESTA HISTÓRIA





“Num tempo, página infeliz da nossa história, passagem desbotada na memória das nossas novas gerações, dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída”, diz a letra da música Vai Passar, de autoria de Chico Buarque e Francis Hime. Assim, milhares de pessoas foram “subtraídas” do convívio durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Centenas foram os mortos e desaparecidos políticos. Milhares, os torturados, sequestrados e presos. Este período foi o mais sombrio da história deste País e, no último dia 29 de abril, o Supremo Tribunal Federal (STF) perdeu a chance de reescrever esta página infeliz.



Isso porque manteve a interpretação de que a Lei de Anistia Brasileira (Lei nº6683/79) abrange os agentes de Estado que foram autores de crimes contra a humanidade. Com o objetivo de questionar a concessão da anistia de forma universal, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pediu uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 153) para que a Lei fosse revisada. No entanto, por sete votos a dois, o STF rejeitou a proposta. “Questionamos a leitura hegemônica que fazem da Lei de Anistia. Houve a interpretação equivocada de que crimes conexos foram cometidos pela figura do Estado. Os crimes estão escondidos e não são públicos. Não é possível anistiar alguém que sequer foi processado”, avaliou Cecília Coimbra, presidente do grupo Tortura Nunca Mais.


“Esta decisão foi uma grande decepção e contraria todos os princípios humanitários. Uma verdadeira vergonha para o País”, declarou Laura Petit da Silva, 63 anos, diretora de escola municipal, aposentada e integrante da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos. “Os crimes cometidos foram de lesa-humanidade; não foram crimes políticos, foram crimes comuns”, enfatizou Vitória Grabois, vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais e ex-guerrilheira no Araguaia.


Além de contribuírem em organizações em prol dos direitos humanos, o que essas mulheres têm em comum? Ambas perderam familiares durante a ditadura militar. “Em 1973, tenho pai, irmão e primeiro marido desaparecidos políticos na Guerrilha do Araguaia. Vivi na clandestinidade de 1964 a 1980. Desde que voltei ao convívio social, luto pelo esclarecimento dos fatos”, afirmou Vitória. “Eu tenho três irmãos desaparecidos – Lúcio, Jaime e Maria Lúcia – também no Araguaia”, disse Laura. O corpo de Maria Lúcia foi um dos únicos identificados. Em 1991, foram encontradas duas ossadas que foram encaminhadas para a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No entanto, o processo de identificação foi bastante moroso e, somente em 1996, quando um militar entregou fotos e anotações do momento histórico que, finalmente, foram iniciadas as investigações. “No material entregue pelo militar, havia uma foto da minha irmã morta tal qual a ossada encontrada. 24 anos após a morte de minha irmã, houve a exumação do corpo e a confirmação de que se tratava de Maria Lúcia”, contou Laura.


Comissão da verdade

A luta destas mulheres é a extensão da luta de milhares de familiares que buscam informações sobre parentes e amigos desaparecidos na ditadura militar. “Queremos esclarecimento sobre os fatos. O que aconteceu? Por quê? Como? Por quem? Onde?”, questionou Vitória. “Nenhum de nós quer um banco de réus, queremos que o Estado brasileiro assuma sua responsabilidade e que abram os arquivos”, pontuou Cecília Coimbra.


No final do ano passado, o governo brasileiro propôs a criação da Comissão Nacional da Verdade, parte integrante no 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH). No entanto, de acordo com Cecília, a comissão não passa de um programa de boas intenções. “O que nós, movimentos sociais, propusemos em dezembro de 2008 – durante a Conferência Nacional de Direitos Humanos – era a criação de uma comissão para investigar crimes de repressão política, e não de conflito político, como está colocado agora. É preciso compreender que não houve guerra nesse País, houve extermínio”, ratificou.


Uma página que se abre – Brasil pode ser condenado por crimes de lesa-humanidade na Corte Interamericana

Diante da falta de responsabilidade do Estado brasileiro perante as atrocidades cometidas na ditadura militar, o Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil), o grupo Tortura Nunca Mais e a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos de São Paulo recorreram à justiça interamericana por violação de direitos humanos, ajuizando ação na Comissão de Direitos Humanos da Corte Interamericana, ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA). Esta é uma ação que se estende desde 1995, quando familiares pediram respostas e o governo brasileiro não as forneceu, fato que os fizeram.


Em 2008, o caso referente à Guerrilha do Araguaia foi enviado à Corte. “O Brasil é signatário de inúmeros decretos entre a OEA e a Organização das Nações Unidas (ONU) que condenam crimes de lesa-humanidade. Vale lembrar que as leis internacionais estão acima das nacionais. Esperamos que o Estado brasileiro seja responsabilizado”, afirmou Cecília.


A audiência do processo será entre os dias 20 e 21 de maio, na Costa Rica. De acordo com informações da presidente do grupo Tortura Nunca Mais, a sentença pode demorar de três a sete meses.


O massacre no Araguaia

Quase 80 guerrilheiros contra centenas de oficiais das Forças Armadas. Esta foi situação da Guerrilha do Araguaia. Entre 1972 e 1974, 69 guerrilheiros partiram para as margens do rio Araguaia, localizado no sul do Pará. A maioria destes homens e destas mulheres tinha formação em engenharia e medicina, seguindo a linha estratégica de Che Guevara. Os guerrilheiros prestavam atendimento social à população concomitante a um trabalho de formação política e conscientização, à medida que conquistavam territórios e confiança.


Alguns camponeses aderiram ao movimento. No entanto, com a chegada desproporcional das Forças Armadas, o massacre foi inevitável. O governo da época enviou homens do Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícia Federal e Polícia Militar do Pará, Goiás e Maranhão para combatê-los, com registros de total desproporcionalidade e covardia.


Pacto socialDiante de tantas mortes, desaparecidos políticos, torturas e massacres, o que leva o Estado brasileiro a ignorar tais fatos e ser o único país da América Latina a não abrir os arquivos da ditadura militar? Maquiavel talvez possa responder, quan­do fala em nome de uma segurança de Estado, conceito hoje definido como Razão de Estado, ou seja, a atuação dos governantes seguirá de acordo com a necessidade de segurança destes. “Nunca tivemos muitas ilusões no STF, já que a correlação de forças não é favorável. O que me parece é que desde 1985 foi feito um acordo que respaldou a ditadura militar”, provocou Cecília. A conjuntura política e o processo histórico que se estende em relação a esses fatos podem vir a resultar numa espécie de acordo entre militares e Estado, independentemente de governo.


Entre espinhos, a esperança floresce

Embora sejam atacados de revanchismo pelos setores conservadores da sociedade brasileira, movimentos sociais e organizações caminham bravamente em busca de justiça e verdade. Inclusive, as poucas informações conseguidas ao longo de todos esses anos se deve, única e exclusivamente, à mobilização das famílias que realizaram caravanas e investigações por conta própria. “Não queremos revanche; queremos justiça", con­cluiu Vitória Grabois.





Camila Marins para o jornal da Fisenge