Era vulgarmente capaz de perdoar uma traição. Um beijo. Uma noite. Uma vez apenas. Apenas. Apenas se isso fosse uno. Uma única vez e nada mais. Lembrava-se do dia que disse o primeiro “eu te amo” envergonhado escondido em banheiros alheios. Lembrava-se do dia que rolaram na cama com cosquinhas e bobeiras que todo casal faz. Lembrava-se do dia que recebeu o perdão. Lembrava-se da generosidade. Lembrava-se de como deu carona para o seu caso. Como deu presentes. Como agradou. Como pagou contas. Como socializou. Como defendeu seu caso mais que o seu namoro. Como preservou mais suas amizades que seu namoro. Como tomou Fanta Laranja envenenada para dormir fora de casa. Como beijou. Como enganou. E, principalmente, como jurou pela morte da mãe. Como jurou por ela e nada mais. Ou quando hesitou em um confronto. Quantas vezes disse “eu te amo” da boca para fora? Não sabia dizer, porque já não conhecia mais a pessoa com quem queria dividir seus anos, suas dores, seus amores, suas descobertas, suas evoluções. Sentia-se casada num dia e, no outro, mais largada que lixo não reciclado. Apenas estrume. Nada mais. Era vulgarmente capaz de perdoar uma traição. Mas não uma relação! Não a convivência cotidiana! Nunca o bom dia diário. Jamais a cacofonia das putarias já tão acostumadas em sua socialização. Era vulgarmente capaz de perdoar uma traição. Afinal, não era santa. Mas jamais estabeleceu uma relação. Jamais deu presente de Natal a alguém. Jamais continuou algo para fora disso. Jamais. Era uma louca, um ser ventando pelas esquinas, mas tinha noção da estabilidade que queria e não foi correspondida. Foi traída. Mesmo que nada mais faça sentido e que seja difícil olhar para os lados, sabe que nada melhor é: um pé após o outro. E, assim, a caminhada segue. E desse conto de amor resta apenas um ponto. Nada mais.
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
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