domingo, 26 de abril de 2009

MAIS TEMPO


Mais tempo

26/04/2009

- “Pode ficar tranquila, os exames descartaram a suspeita de tumor”. E o alívio tomou conta da minha saída do consultório. Depois de, praticamente, dois meses vivendo angústias sem fim e sem imaginação, idas e vindas em consultórios tanto do sistema público, quanto do sistema privado, finalmente, o pior se esvai. Nunca imaginei que, aos 24 anos, poderia ouvir notícia tão dolorosa como a de uma suspeita de tumor no estômago.

Tudo começou com uma dor de garganta adquirida fora do País e que não melhorava, mesmo com antibióticos, mel, própolis e afins, nada passava. Depois vieram os inúmeros diagnósticos: faringite, esofagite de refluxo, úlcera e, enfim, o possível tumor. Desesperei-me, é claro. Afinal, até a chegada do resultado dos exames ainda ficaria angustiada com tal possibilidade. Fiquei imaginando que poderia morrer a qualquer momento, que o fio que segurava minha vida era mais suave que o sopro de uma brisa.

“- Não! Não poderia morrer aos 24 anos”, eu pensava. Muito jovem, muito desengonçada, muito sorridente, muito inexperiente, muito imatura, muito infeliz... Tantas coisas por fazer. Tanto ainda por Ser. Tanta poesia perdida em minh’alma. Tanto por amar. Tanto por ser amada. Tanto por brindar. Tanto por gargalhar.

Enquanto me enrolava nestes pensamentos carregados de culpa cristã e arrependimentos (confesso!), isolei-me do mundo. Não contei a nenhum dos meus amigos, apenas família sabia e, assim, recolhi-me em casa. Fiquei só, sem celular, telefonemas, internet. Preferi a solidão e deixar toda a lamentação redundante para o diagnóstico. Muitos não compreenderam, mas esta reflexão foi um momento muito individual.

E chegou o dia da endoscopia e da biópsia. E, antes do Dormonid (remédio para dormir) fazer efeito, lembro-me das duas últimas perguntas do médico:

- “Casada ou solteira”?

- “Solteira”.

-“ Idade”?

- “24 anos”.

E, com o som da minha idade, adormeci para a realização do exame. Entrei em um mundo de imaginação com aquela droga. Ouvia as pessoas na sala de repouso, mas não assimilava suas palavras. Entrei em um táxi completamente perdida nessas Campinas. Não reconhecia as ruas, os bairros e muito menos minha casa. Afinal, quem eu era? E o Dormonid, ao longo do dia, me mostrava que eu nada sabia ou conhecia. Pouco mais de duas décadas não foram suficientes para desbravar essa louca vida. E, certamente, eu precisava de mais tempo...


6 comentários:

Marcelo Amorim disse...

Adicionada à minha pequena lista de blogs de gente que gosto de frequentar. Bem-vinda. No tempo certo.

Jeff disse...

Agora eh hora de vc participar do www.eramelhornumbar.blogspot.com... vou te adicionar, ok? beijos, jeff

Anônimo disse...

Três perguntas a se fazer:
Onde?
Quando?
Com quem?
E três possíveis respostas:
Sempre estamos aqui.
Sempre agora.
Sempre conosco mesmo.

"O fim de uma estação é o começo de outra. Vão-se as férias e surgem as folhas amareladas. Está a derreter a neve e chegam as flores esperadas."

Rodrigo Nascimento disse...

muito bom, Camila!
você me animou a também criar um blog. Lembrei de um poeminha, não sei quem o escreveu, ou cantou:

"Acordei. Susto.
o olho redondo no escuro
Lembrei que de criança
até hoje
ainda não tinha quebrado sequer
um braço.
Pedi a Deus mais tempo.
Mais tempo."

Wilson Guerra disse...

Concluindo: alarme falso! Hehehe

Luiz Vita disse...

Menina,
Que história essa que você contou. Felizmente você tirou um peso da alma. Te desejo muita sorte. Eu sei o que é ter 24 anos. Também já tive.

Parabéns pelo Blog e pela defesa da obrigatoriedade do diploma para o exercício de nossa profissão.