quarta-feira, 8 de abril de 2009

Cínico cotidiano

Números e mais números

08/04/2009

Números e mais números de uma hipocrisia revelada. As contas amontoavam-se em um criado mudo cúmplice de sua matemática insana. O barulho ensurdecedor da calculadora lhe incitava a neurose. E apenas números... Desgraça incalculável de uma mais-valia garantida. Sufocado, precisava respirar e, fora de casa, alcançou qualquer meio-fio perdido pelo cotidiano. Sua única certeza era o Apocalipse representado em números: folhas bastardas de um livro mal dito e pronunciado por línguas pagãs nas esquinas. Qual a diferença entre as esmolas e os sermões? As cercas e os versículos? A fome e os anjos? Não! Não sabia e nem uma revelação lhe era prometida em orações. Sangrou os joelhos pela faixa de pedestre e gritou aos Céus:

- “Em nome do Pai”.

E o seu pai não era Deus. Era seu País. Matou-se em meio ao cinismo daquelas folhas rasgadas de Bíblia.

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