quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

só por hoje

30/12/2010


Ser. Essa errante tentativa de ser. 2010 se foi e, em mim, algo se foi. Muito se foi. Indagação, divagação, tergiversação. E essa ação comum entre reflexão, vácuo e ser se dissipa em obstáculos do cotidiano. Sou errante! Errante nesse caminho tresloucado de ser, coberto de atos, entrelinhas e cenários. Ah! Quanto mudou em meus cenários. Essa mudança ainda percorre cada veia, cada artéria pulsante de meu corpo frágil e dependente. Talvez essa incessante busca pela autonomia plena, de corpo e alma, destrua cada pedaço do ser. Não! Não existe autonomia! Somos todos errantes, filhos de Caim, acorrentados a algum tipo de ação, questionamento ou pensamento. Somos o pleno movimento e a dança de nossos corpos passa transversal a qualquer sentido existencial. Tentei a cama com Freud e Nietzsche, flertei com Clarice e Simone de Beauvoir, e agora tento não falar mal da rotina com a intimidade de Elisa Lucinda. Essas bagagens intelectuais abrem horizontes, mas é preciso ação! Tento sorrir, mas o cotidiano praticamente me impede. Tento não alimentar mágoas, mas o passado me atormenta. Tento ser feliz, mas os remédios não funcionam. Tento não ser triste, mas a arruda deixou de ser forte. Tento ser e não ser. Então, decidi: não sou nada e nem ninguém. Uma simples errante traçando caminhos de uma aquarela em preto e branco. Cambaleando pelas esquinas claustrofóbicas de noites solitárias. Me embriago com as dúvidas, com o talvez e com o quiçá. Sou e não sou, mas para 2011 seguirei a receita: só por hoje!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Memórias póstumas de um final de ano

Crédito: Ascom/ MDA


Avançamos. Definitivamente, avançamos. Embora distantes de uma reforma agrária, inúmeros projetos de agricultura familiar, bem como políticas direcionadas para o campo foram implementadas. Fez-se a luz no campo, programas de educação foram regulamentados, a lei de assistência técnica gratuita foi efetivada. Mas ainda há dificuldades para crédito pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), além de falta de acesso à saúde, a transporte público e afins. Direitos básicos não reconhecidos. Trabalhadores rurais ainda sofrem. São criminalizados pela mídia. São discriminados. No entanto, pergunto: estas famílias vão para debaixo de lona preta porque querem? A lona preta no calor é quase um teto de zinco em chamas e na época de chuvas e inverno, não protege. A isso chamo: resistência.

Avançamos. Definitivamente, avançamos. Elegemos a primeira mulher presidenta do país, diante de um cenário conservador imposto pela mídia. Aborto, distorção da luta contra a ditadura militar e até orientação sexual entraram no debate “político” (que de político não teve nada). Assistimos ao rebaixamento claro da direita, sem agenda política e agindo com a conivência dos donos dos grandes veículos de comunicação. Eu, que não sou PT, fui às ruas, fiz campanha pela eleição de Dilma. Afinal, não poderia ver meu país (S)cerrado por mais privatizações.

Avançamos. Definitivamente, avançamos. O governo Lula tomou a postura corajosa de apoiar Manuel Zelaya, presidente de Honduras, durante o golpe de Estado. Estreitamos relações com nossos irmãos latinoamericanos. No entanto, acompanhamos um retrocesso histórico: o envio de tropas militares brasileiras ao Haiti. Vergonhoso!

Avançamos. Definitivamente, avançamos. Foi criado o Conselho Nacional de Combate à Discriminação, denominado Conselho Nacional LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). Mas ainda não aprovamos o projeto de lei 122/06, que propõe a criminalização da homofobia. Assistimos cotidianamente atos de violência à população LGTTB (prefiro usar a sigla completa), ainda ouvimos comentários preconceituosos – muitos sob pretexto religioso – olhares discriminatórios e as travestis e transexuais sem qualquer direito à cidadania. Dignidade já!

Avançamos. Definitivamente, avançamos. Realizamos a I Conferência Nacional de Comunicação. Contudo, poucas famílias ainda detêm o monopólio dos meios de comunicação, não há controle social e o movimento de rádios comunitárias é cada vez mais massacrado e criminalizado.

Avançamos. Definitivamente, avançamos. Esta é uma breve análise. Não é meu papel alardear apenas os problemas, e muito menos destacar apenas os aspectos positivos. Crítica e auto-crítica são fundamentais na construção de um projeto de uma nação com soberania, justiça e solidariedade. Se avançaremos mais? Não sei, mas aqui também ficam as minhas críticas, algumas memórias e deixo que a História nos diga, nos absolva ou nos culpe...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A Lapa é assim

A Lapa é assim. Algo inexplicável, talvez sensorial. Saias apregoam contra a gravidade. Moicanos contrastam com penteados crentes. Pernas doídas convalescem nas esquinas. Fomes são esquecidas. Ao lado do forró, dance até o chão com o batidão do funk, ou então siga pela Mem de Sá num bloco improvisado de carnaval. A Lapa é assim. Palmeiras de acolá com ervas de outras escadarias. Reggae além da medida no churrasquinho da esquina. A Lapa é assim. Gelada como o chopp do botequim. Solitária como a feira dos arcos. Sufocante como a fila dos shows. Destilada como a batida de quinta da barraca da tia Neide, que nem sei se existe. A Lapa é assim. Sincretismo fervoroso, São Jorge sobre nós e lama sob nós. Somos o bueiro mais diversificado e mais cobiçado deste Rio de Janeiro. A cada esquina uma nova roda, um novo ritmo, um novo cheiro de cigarro, uma nova cerveja e até uma nova cantada. A Lapa é assim. O buraco arqueado mais excitante de todas as contradições existentes. A Lapa é assim.


11 de dezembro
- Bumbum de passista de samba é feito de laquê;
- Cerveja é bom e todo mundo gosta;
- Gringo inventa uma dança que ninguém entende;
- A Lapa é clandestina...

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Testamento Cotidiano

Confiram meu novo projeto em http://testamentocotidiano.blogspot.com