domingo, 20 de dezembro de 2009

Esquizofrenia


Esquizofrenia

20/12/2009

Surtos esquizofrênicos impediam passos futuros. Alucinava em copos cheios de vazio. Assim era sua alma. Sussurros pelos corredores lhe torturavam e já não havia mais anima que suportasse. Seu rosto se acostumara com labirintos de sal desenhados em pranto. Bagunçava os cabelos em busca de respostas e seus caracóis nada lhe diziam: rastejavam em marasmo. O desespero confrontava sua razão e não era mais a mesma. Caia no desequilíbrio e nem as unhas lhe sobravam. Permanecia na corda bamba da existência e nenhum (a) braço para lhe amortecer a queda. Queda sem fim, apenas abismo. Assim fora sua vida, vazio sem fim, precipício da loucura. Fim, apenas o fim lhe soara bem, quiçá canção de ninar... Durma bem meu bem... e não se esqueça: close your eyes.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Sim! Sou negra!

Sim! Sou negra!



“Por favor, você poderia encher a garrafa de café?”. Foi exatamente isso que ouvi em um evento que fui cobrir destinado a engenheiros e advogados. Apenas respondi à elegante senhora: “Desculpe, mas eu também gostaria de tomar um café. Sabe onde podemos encher?”. Fui cobrir a atividade para fazer uma matéria sobre o pré-sal e a cor do petróleo se fez presente. Sim, sou negra!

Há algumas semanas outro fato interessante aconteceu. Eu estava entrando na minha casa quando a vizinha me abordou e perguntou se eu era a tratadora dos gatos que criamos em casa... Eu disse que não e que morava ali e ela insistiu: “Você mora onde? Aqui no bairro?”. Eu disse não, moro neste apartamento. E ela, um pouco sem graça, continuou a conversa sem eira nem beira e, ao final, ainda me cumprimentou com um beijo no rosto, gesto que não foi feito no início da conversa. Ou seja, tentou contornar a situação com um beijo de Judas.

Agora, nesta segunda-feira passada, estava chegando do aeroporto, vindo de Manaus, com muita bagagem e o porteiro prestativo interfonou no meu apartamento e disse: “Olha só, sua secretária está subindo com um monte de malas, alguém pode ajudá-la?”. Meu amigo questionou se era nossa secretária doméstica e o porteiro disse: “Não, é a Camila”. Então, novamente, eis a confusão. Não me importa ser confundida com secretárias, domésticas ou qualquer outra profissão, o que realmente me importa é a violência do preconceito racial. E a dimensão desta dor poucos conhecem. Ou talvez muitos, já que a maioria de nós faz parte da imensa parcela de excluídos.

E, mesmo diante de situações cotidianas como as descritas acima, nós, excluídas e excluídos, ainda somos acusados de vitimização. Inadmissível, pois só corrobora para a hipocrisia e praticamente ignora o preconceito. Não adianta me dizer que no Brasil não existe preconceito. Existe sim e convivemos com essa dor cotidianamente. Outros ainda me dizem: “Você não é negra. É morena de cabelo cacheado”. Então, me respondam se eu não sou negra, porque sofro preconceito racial incessantemente?

Sim! Sou negra!