sábado, 27 de junho de 2009

SOBRE O DIPLOMA

Sobre o diploma

27/06/2009

Demorei um pouco para me manifestar. Talvez por uma falsa esperança ou descrença na decisão. Mas o fato é que nós, jornalistas, perdemos o diploma. Não irei enumerar, mais uma vez, os motivos pelos quais defendo a causa. Me aterei a um novo fato: a polêmica fala de Gilmar Mendes em que nos compara a cozinheiros. Muito tenho lido sobre isso e, confesso, não tenho gostado. Reacionária, esta impertinente intervenção coloca trabalhador contra trabalhador, além de assumir um outro caráter na luta de classes. Como militante sindical da categoria, luto por um mundo melhor, uma sociedade justa, realmente democrática e soberana. Acredito que todos somos iguais e, portanto, companheiros. Não dá para deixar de criticar a fala de Gilmar (tanto em seu mérito, como em conteúdo) que criou um clima de desgaste e conflito desnecessário.

Para mim, não é insulto ser comparada a um cozinheiro. Ao contrário, luto para que todos nós, de maneira universal, tenhamos acesso à educação pública de qualidade. Para que todos nós tenhamos acesso a um diploma. Para que todos nós tenhamos direito à informação. O que não aceito é perder direitos. E a perda do diploma significa uma perda histórica em nossa categoria que sempre foi fundamental para a democracia. Nos tempos mais duros de nossa História que foi a Ditadura, a imprensa, seja por via institucional ou militante, exerceu papel fundamental e protagonista na luta pelos direitos, pela democracia e pela liberdade. No entanto, com o passar do tempo, nossa profissão tem adquirido um caráter mercadológico, tanto nas universidades, como nas empresas. Empresas estas que deveriam atender a outra lógica e não à lógica do capital que distorce a informação.

Se perdemos o diploma hoje, ou seja, a nossa legitimidade, o que perderemos amanhã? Quem sabe nossa jornada de 5+2 horas? A sinergia já existe e é cada vez maior o número de jornalistas que além de escrever, fotografam, dirigem e até diagramam pelo mesmo piso salarial (embora, muitas vezes, não respeitado) e excedem a carga horária sem ganhar a mais por isso. E os profissionais que não têm diploma? Como serão regulamentados? Quem defenderá os direitos deles? Haverá equiparação salarial ou cairemos na lógica da precarização e mão-de-obra barata?

Deixo alguns deveres: devemos pressionar por uma nova lei de regulamentação de nossa profissão; também devemos lutar pela equiparação salarial e de direitos aos trabalhadores que não têm diploma; devemos debater profundamente o currículo acadêmico e o ensino de base; devemos propor políticas públicas de educação e a real transformação do nosso País e, por fim, lutar intransigentemente pela democratização da informação e pelo fim do monopólio da imprensa.

Não podemos segregar. É hora de unir forças, principalmente, em um momento tão delicado na conjuntura político-econômica. E que nunca nos esqueçamos de que todos somos trabalhadoras e trabalhadores.


INFORMAÇÃO NÃO É MERCADORIA, MUITO MENOS O MEU DIPLOMA!

E QUE O GILMAR VÁ NEGOCIAR E FAZER LOBBYS EM OUTRO MUNDO...

Um comentário:

Marcelo Amorim disse...

Não sou jornalista por um detalhe da vida. Minha profissão - sou publicitário, embora formado em direito - também não exige diploma. Mais do que o diploma em si, acredito ser fundamental para a formação da pessoa a passagem por uma boa universidade ou faculdade (embora estas instituições estejam cada vez mais focadas no "mercado" e cada vez menos na vida acadêmica). A boa formação do ser humano sempre será um dos mais poderosos antídotos para o empobrecimento do mundo. Empobrecimento material e cultural. Então, independentemente da questão específica do jornalista, ou até do publicitário, não concordo com essa decisão. No mais, acho o ministro Gilmar um infeliz.