terça-feira, 2 de setembro de 2008

O riacho

Camila Marins – 02/09/2008

Fitou-me o riacho. Curvas turvas seduziam sua inconsciência, enquanto eu ainda lembrava-me de quem eu era. Uma palavra. Um gesto. Um olhar. Uma poesia. Qualquer coisa. Refutava-me a experiência. Refutava-me a amnésia. Refutava-me esse estado de coisas. Cruel, minha memória insistia em se perder de mim mesma. Lembranças fugidias. Quem? O quê? Por quê? Ainda a me olhar, o riacho seguia a melodia em bemol. E o riacho tornava claro seu fado. Um manancial em branco. Um manancial retirado. E tudo aquilo que o riacho prometera outrora foi-se. Ajoelhei-me à sua beira e lágrimas preencheram tuas curvas. Curvas turvas que carregam este pranto abandonado. Mas, ao seu redor, as flores ainda brotam em caules marejados.


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