Oração de Natal para Saci
As ruas estão vazias. Os corpos estão vazios. As almas estão vazias. Os estômagos estão vazios. Entre as esquinas apenas o barulho de sinos. Sinos que badalam todas as dores do mundo. As dores das estranhas entranhas amarradas e postas à guilhotina. Todo o vazio daquele estômago fissurou a lâmina. Ah, doce metal que alimenta tuas mazelas. Abre a caixa de Pandora e ajoelha. Ajoelha diante de tu’alma e chora toda tua essência. Olha para os lados e derrama tu’alma em lágrimas. Saboreia o sal que marca este chão e compete com o badalar dos sinos. Compete com as luzes espalhadas. Compete com espíritos. Compete com a hipocrisia. Levanta-te do solo e estende tua mão que ele vem aí. Estende tua mão que seu chapéu é vermelho e as luzes já se apresentam. Estende tua mão para a fumaça. Estende tua mão para tua cor. É ele. Rodopiando em seus ventos, soltando fumaça pelo cachimbo. Ah, meu Saci, salvai esse mundo! Leva embora esses gorros vermelhos que querem nos confundir nesta data. Leva embora essas luzes que não são vaga-lumes. Leva embora esses trenós que competem com teus ventos. Leva embora esse gelo que não é a fumaça de teu cachimbo. Leva embora essa barba branca que esquece de tua cor. Negra como a noite. Leva embora esse esquecimento e nos apresente o horizonte. Leva embora esse vazio. Leva embora essa mazela. Leva embora essa hipocrisia. Vai meu Saci, com a força de teu gorro, protegei-nos desse Mal. Amém.
Camila Marins