quarta-feira, 23 de março de 2011

Castração

23/03/2011
Não compreendia a necessidade castradora do mundo. Era Margarida. Trinta e poucos anos e ainda assim aparecia-se. Aparecia-se e perdia-se num labirinto de figuras de linguagem. Sonhava em ser livre, cantar sua tristeza ao mundo sem castrações ou censuras. O alheio lhe incomodava. Era assumidamente egoísta e não se importava com o seu redor. Afinal, a melancolia lhe tomava o redor. Redor, redoma de alma. Tentava fugir, mas sua alma alucinava. Precisava gritar pelas janelas aquilo que lhe era visível: não era feliz e não conseguia forçar uma felicidade inventada. Amargava em noites ébrias sob a lua, escondia-se em farras mal ditas; e somava sua infelicidade às doenças. Seu corpo era refém. Sem dó, lhe castravam e sua alma castigava seu corpo. Corpo nada viril, nada atraente, nada interessante. Um corpo frágil em sustentação; frágil em coluna; mal conseguia permanecer ereta. Apenas estômago. Assim botava para fora toda sua insatisfação com o redor; sua infelicidade manifesta em vírus, bactérias e outros nomes que lhe pareciam mais familiares do que qualquer outra pessoa. Amava o outro, mas rogava pelo direito de não se amar e de não amar a vida. O mundo lhe pesava e a culpavam por carregar esse fardo. Não tinha culpa, sua alma veio assim. Sua alma sorve o mundo assim. Não podia, simplesmente, engolir a felicidade como uma comida enlatada, embora tentasse fazer isso para agradar os outros e não a si mesma. E quando se olhava no espelho, era a melancolia que lhe refletia. E quando escrevia, era a tristeza seu maior motor. E quando caminhava, era a infelicidade o seu impulso. A cada dia pedia: respeito, porque as diferenças aniquilavam seu ser... um dia a menos. Por favor, menos um dia.

terça-feira, 22 de março de 2011

Folha de S.Paulo registra jornalistas como assessores administrativos

Izabela Vasconcelos

A Folha de S.Paulo registrou dois jornalistas como assessores administrativos. A informação foi confirmada pelo vice-presidente do Comitê de Imprensa do Senado, o jornalista Fábio Marçal, que também é membro do Conselho de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal.

O Comunique-se teve acesso aos documentos que comprovam a irregularidade na contratação dos jornalistas. Nos dados, o jornal alega que o registro como assessor administrativo é uma norma da empresa. “Eu não sei se eles fazem isso pra fugir do sindicato ou pra burlar a legislação, é um absurdo”, contestou Marçal.

O jornalista enfatiza que apenas os dois casos se tornaram conhecidos, mas acredita que outros profissionais já tenham passado pela mesma situação.

Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, Lincoln Macário Maia, a situação é absurda. “É um absurdo. É uma demostração de que veículos como a Folha são muito apressados em denunciar irregularidades, mas não prestam atenção no que acontece debaixo do seu nariz”, afirmou.

Maia lembrou do caso de outra empresa, que segundo ele, também já cometeu a mesma irregularidade. “A Bloomberg também tenta disfarçar suas contratações de jornalistas. Essas ‘inovações’, formas toscas disfarçadas de sofisticação, precarizam a profissão”, declarou. A Bloomberg não se pronunciou contra a acusação.

Deputado critica contratações
Há uma semana, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), autor da PEC que pede a volta da exigência do diploma de jornalismo para atuar na profissão, foi informado da irregularidade na Folha, e protestou. Segundo ele, que também é jornalista, irregularidades já eram cometidas em muitos veículos, mas tendem a aumentar. “É uma sinalização clara de que o fim do diploma levará à precarização da profissão”, afirmou.Procurada pela reportagem, a Folha ainda não se manifestou sobre o caso.

Izabela Vasconcelos do Comunique-se

domingo, 20 de março de 2011

Sou jornalista sim, e tenho orgulho!

Camila Marins - 20/03/2011

Não me formei jornalista por dinheiro ou por glamour. Muito menos por algum sonho de infância. Segui a intuição de uma professora de português do Ensino Médio, fui seguindo e me apaixonando pela profissão. Ser jornalista nos traz muitas incertezas, mas de uma certeza temos: a capacidade de sensibilizar e comover as pessoas para a realidade social, por meio das palavras. Desenhamos obras de arte, valsamos melodias em letras e temos em mãos o maquiavélico (ou não) poder de convencimento. Tudo vai depender de que discurso nos apropriaremos.

Mas, infelizmente, ser jornalista não é nada fácil. A cada dia, nós, profissionais, temos nossos direitos atacados. Além da queda do diploma, temos assistido a uma lamentável precarização do trabalho. As conquistadas 5 horas de trabalho (leia aqui o belo artigo da jornalista Elaine Tavares) já não são mais respeitadas pela maioria dos veículos e agências. Hora extra não existe, apenas um banco de horas fantasioso, já que muitos jornalistas acumulam centenas de horas EXTRAS e sequer conseguem compensá-las em folga. Ou seja, trabalho não remunerado e superexploração. Além disso, existe o acúmulo de função. Jornalistas que escrevem, editam, fotografam, diagramam, fazem vídeos, áudio, e tudo isso ao mesmo tempo e sem remuneração extra. (ATENÇÃO: jornalista não tem obrigação de fotografar ou cumprir outras funções).

E os ataques não param por aí. Falando em remuneração, quantos de nós recebem de acordo com o piso salarial? Poucos, isso eu posso garantir. Conheço gente de redação, aqui no Rio de Janeiro, ganhando R$1.200, dando plantões infindáveis, muito além da jornada de cinco horas. Até mesmo profissionais que trabalham em entidades de classe não têm seus direitos respeitados. Isso sem falar das terceirizações e o famoso PJ (Pessoa Jurídica), que não garante qualquer direito ao profissional. E o pior de tudo é que, muitas vezes, essa parece a única alternativa, haja vista as filas e filas de profissionais procurando emprego.

O quadro não é bom. Precisamos garantir os nossos DIREITOS! Estimular uma ampla campanha de valorização profissional frente aos ataques. E por que não dizer: Sou jornalista sim, e tenho orgulho! Não podemos dar por finda a nossa situação trabalhista. Não podemos sucumbir. Não é o fim do jornalismo. Mas sim, a retomada de nossa luta. A retomada de uma luta histórica da categoria. Somos trabalhadores e merecemos respeito. Sou jornalista sim, e tenho orgulho!
PELO FIM DO BANCO DE HORAS
PELO FIM DAS TERCEIRIZAÇÕES E DOS PJ’s
PELO FIM DO ACÚMULO DE FUNÇÃO
PELO CUMPRIMENTO DO PISO SALARIAL
PELO RESPEITO À JORNADA DE TRABALHO DE CINCO HORAS

A jornada das sete horas ou o 5 + 2

Por Elaine Tavares – jornalista

O sindicato dos trabalhadores jornalistas tem, reiteradas vezes, recebido pedidos de informação sobre a questão do intervalo de uma hora para quem faz jornada de sete horas nas empresas de comunicação. Cabe, então, tecer alguns comentários sobre esse tema no geral, para, depois, entrar no detalhe da questão do intervalo. Em primeiro lugar, é bom que fique claro que a jornada de trabalho para jornalistas é de cinco horas. E isso não é um número jogado ao acaso. Essa jornada significa muitos anos de lutas sistemáticas para conquistar esse direito. É que o trabalho do jornalista é coisa estressante demais.

Estudos sobre a saúde do jornalista dão conta de que as enfermidades que mais acometem estes profissionais são: doenças cardíacas, ansiedade, alcoolismo e depressão. Não é para menos. Os jornalistas vivem um cotidiano recheado de estresse. É o acúmulo de trabalho, a pressão por conta do tempo final (as matérias têm de ser entregues numa determinada hora), más condições de trabalho, a loucura dos trânsitos caóticos, os problemas com equipe de trabalho, e, além do mais o cara-a-cara com a vida real, seja nas suas tragédias cotidianas ou na impotência da política. Assim, as cinco horas já são uma carga imensa de adrenalina, tensão e responsabilidade.

As empresas de comunicação, visando garantir uma superexploração do trabalho e buscando driblar a lei, oferecem ao trabalhador a “opção” de fazer uma jornada de cinco horas, mais duas, num total de sete horas. A lei prevê que, caso o trabalhador aceite o pacto, isso é possível. Mas a lei também prevê que haja um intervalo de uma hora no meio da jornada para que o trabalhador possa descansar e se alimentar. Ou seja, para quem sabe contar, o profissional acaba ficando as mesmas oito horas na empresa e ainda trabalha muito mais. Afinal, na jornada de oito horas o descanso é de duas horas. Então, esse acordo que os patrões empurram goela abaixo aos trabalhadores é a concretização deste palavrão que costumamos usar, buscado na obra teórica do economista Ruy Mauro Marini: superexploração.
Não bastasse isso, existem algumas redações que ficam completamente fora de mão, o que obriga os trabalhadores a ficarem confinados dentro das empresas. O resultado é que fazem um lanche e seguem trabalhando, sem respeitar a parada de uma hora.

O sindicato sabe que a maioria dos trabalhadores, na verdade, não tem escolha. Ou assinam o contrato de sete horas, ou tem uma fila enorme esperando para assumir a vaga. Então é coisa difícil de resistir. Mas seria de bom alvitre que os jornalistas pudessem pensar sobre isso. Não valeria a pena se rebelar contra isso? Uma rebelião coletiva? Todos se negando a assinar o contrato, exigindo as cinco horas? Utopia? Pode ser, mas é ela que tem de ser o nosso horizonte. As cinco horas, repetimos, não é um número ao acaso, elas dão conta de uma jornada de trabalho que permite minimamente a qualidade de vida.

Mas, se não houver jeito mesmo, e o contrato de sete horas for assinado, é preciso defender com unhas e dentes o descanso de uma hora. Mesmo aqueles que ficam confinados. Procurem usar essa uma hora para lanchar e descansar, para fazer uma boa conversa sobre o trabalho, sobre as condições com que estão realizando as tarefas, sobre as lutas que precisam ser travadas. Exijam a uma hora. É direito, e faz com que a “maquininha” chamada vulgarmente de “corpo” possa recarregar as baterias. Não importa se não há para onde ir. Há que parar. Fazer meditação, cantar um mantra, conspirar contra os patrões. Qualquer coisa. Essa hora é um direito.

Alguns colegas pedem para o sindicato que negocie o fim desta uma hora, que a jornada seja corrida. Não poderíamos fazer isso. E não simplesmente porque é a lei. É que sabemos o quanto a jornada de sete horas pode ser estressante e demolidora.

Então, a proposta que concretamente colocamos aqui é essa. A luta pelas cinco horas. Isso é fundamental. Enquanto os trabalhadores seguirem aceitando esse acordo explorador, as coisas seguirão como estão. Os patrões têm a lei, e os trabalhadores não têm sequer organização. E isso não é uma coisa que o sindicato tem que fazer pelo trabalhador. Isso é luta política, coletiva. Não é coisa de uma direção ou uma vanguarda. Ou se assume a luta conjunta ou a exploração segue. O sindicato é guarida e alavanca de organização.

E, enquanto a jornada de sete horas existir, façam valer o descanso. Ele é necessário. Uma olhada no estudo do médico Roberto Heloani, disponível na página do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina (http://www.sjsc.org.br/noticias_det.asp?cod_noticia=1183), já dá mostra do que é a vida do jornalista e como ele pode adoecer por não observar a necessidade de um bom ambiente de trabalho e um descanso real. Jornalista é trabalhador e como tal deve fazer valer suas bandeiras de luta.

Por Elaine Tavares – jornalista

sexta-feira, 11 de março de 2011

saudades das minhas misses imperfeitas...

Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado, decido o cardápio das refeições, cuido dos filhos, marido (se tiver), telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço as unhas e depilação!

E, entre uma coisa e outra, leio livros.

Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.

Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás.

Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros..

Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora.

Você é, humildemente, uma mulher.

E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.

Tempo para fazer nada.

Tempo para fazer tudo.

Tempo para dançar sozinha na sala.

Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.

Tempo para sumir dois dias com seu amor.

Três dias..

Cinco dias!

Tempo para uma massagem.

Tempo para ver a novela.

Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.

Tempo para fazer um trabalho voluntário.

Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.

Tempo para conhecer outras pessoas.

Voltar a estudar.

Para engravidar.

Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.

Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina?

Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra..

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.

Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.

Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!

Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente. Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C. Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.

E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante'


Martha Medeiros - Jornalista e escritora


quarta-feira, 2 de março de 2011

NPC lança cartilha comemorativa dos 100 anos do DIA DA MULHER


Em 1911, o dia da mulher foi comemorado pela primeira vez em outros lugares além dos Estados Unidos. Aproveitando o centenário desta primeira celebração internacional do Dia da Mulher, o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) elaborou uma publicação comemorativa do dia 8 de março. Cada exemplar da cartilha 100 ANOS do DIA DA MULHER custa apenas R$ 5 (preço unitário) e pode ser comprado na sede do NPC, no Rio de Janeiro, ou pela internet.

Com ilustrações do cartunista Latuff e imagens do fotógrafo João Zinclar, as 32 páginas da publicação são uma verdadeira aula de história. “Qual o sentido do dia da mulher? Dia de luta pra quê? Para que a mulher fosse reconhecida e se reconhecesse como ser humano. Com iguais direitos em casa, no trabalho, na escola, na sociedade, em tudo”, diz um trecho da publicação.

A cartilha 100 ANOS do DIA DA MULHER mantém a parte histórica daquelas editadas anteriormente pelo NPC sobre As Origens Socialistas do dia 8 de março e contém novas imagens e informações. “Muitos sindicatos e movimentos sociais nos pediram para reeditarmos a cartilha para que pudessem usar em suas atividades durante o mês de março. Nós o fizemos com muitas mudanças, mas mantendo a parte histórica”, explica Vito Giannotti, coordenador do NPC e autor da cartilha.

Contatos:
Telefone: (21) 2220 5618 / 8859-1486
E-mail: npiratininga@piratininga.org.br
Endereço: Rua Alcindo Guanabara, 17, sala 912, Cinelândia (ao lado da Câmara Municipal) – Centro – Rio de Janeiro