quarta-feira, 23 de setembro de 2009

EXPERIÊNCIA

Experiência

23/09/2009


quando menos se espera
arrebata
e a cama completa
o círculo

o círculo
ainda longínquo
secreto
e quase mudo de si

feminino exacerbado
pernas trançam em valsa
gemidos em sustenido
maculam noites de lua cheia

abandona a perversão
e agora sublima
o círculo

a dor não lhe acomete
e a cama completa
o círculo

e o canto do amanhecer tortura
tortura
a separação
separação de dois corpos em círculo

em seus sonhos, Jung abençoa
a união do ser
gozo em demasia

assim seja!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

MEDO, rogai por nós!


MEDO, rogai por nós!

14/09/2009


O medo silencia bocetas tagarelas. O medo arregala o olho do seu cu. O medo faz criancinhas chamarem a puta que as pariu de senhora. O medo faz padres punhetarem sob batinas. O medo nos faz ajoelhar entre a cruz e o falo rompante. O medo faz putas se comportarem como virgens. O medo faz virgens se masturbarem com Jesus na cruz. O medo me faz dizer isso tudo e ainda me conter. O medo me faz tentar romper - com a incerteza de um futuro êxito. O medo me faz sair da 3ª pessoa para blasfemar em 1ª. O medo espalma meu corpo e beija minha face como Judas. O medo! O medo! O medo se revela no espelho e meus olhos se confundem no silêncio de uma alma precipitada.

Medo e espelho: prisão emoldurada do ser.






quinta-feira, 10 de setembro de 2009

INSÔNIA - again


INSÔNIA - again
10/09/2009


Seu lirismo era putanesco e não manifestado em seu corpo. Pensava que seu maior inimigo era a dor, mas enganava-se. Lograva-se na pseudo persuasão de caminhos lascivos. Seu corpo escorria a seiva da mais pura dor. Dividia-se na existência e perdia-se em EUs. Era mulher e quase odiava o mundo por isso. Sonhava com o ascensorista do prédio. Ah! Como lhe atormentava aquela imagem: dedos acariciando botões... Não era um toque manual automático ou desatento; era um toque libidinoso, quase convidativo. Continuava perdida entre desejo e dor. Oceânica e sedenta: assim era sua alma derretida em lágrimas – sal que seca corpos e incita masturbações indesejáveis. Cansava de proibições e pervertia-se em descobertas que pingavam, uma a uma, por suas coxas. Ainda molhava lençóis: solitária. E tinha a fome de Lilith. Tinha a fome de Zeus. Queria engolir tudo para preencher o vazio. E o vácuo, finalmente, revelou seu maior inimigo: o seu próprio eu, minúsculo em existência.


terça-feira, 8 de setembro de 2009

A PUTA DE CADA DIA


A PUTA DE CADA DIA


08/09/2009


Seria a puta daquele que a fizesse uma. Não era mulher cotidiana, esporrava entre pernas dores de uma barbárie. Não sabia o significado da palavra “felicidade” e abortava filhos não desejados, quase corrompidos. Ainda sangrava e como sangrava. Confundia-se entre o existencialismo e o materialismo. Não era mulher parideira. Era um ser em eterno combate com sua própria natureza. Ventava cabelos entre florestas e relutava em aceitar existência. Não era mulher refletida e manifesta em costelas de um único indivíduo. Era a própria coluna: mulher. A diferença rasgava sua boceta de Pandora, ainda molhada pelos males do mundo. Negava! Negava! Abnegava! E, na Bíblia, encontrou sua resposta: seria a puta que jamais iria parir.
Salve Nossa Senhora!




quarta-feira, 2 de setembro de 2009

FERIDAS DE UMA SACI




FERIDAS DE UMA SACI


02/09/2009


A contradição do ser
arrancada como lâmina
não sangra: SUICÍDIO

na tormenta, nada se ouve
ou se range
apenas cala!

resvala, resvala
mascara
a senzala

um mal-estar me acomete
e não sou mais a mesma

cansei
juro que cansei!

sórdidos corpos
bailam para um deus morto

e ninguém vê
apenas crê

rastejo invisível
em tapetes vermelhos
e alguém ouve meu corpo?

meu corpo está aí
dançando pelo chão


esquálido
e quase esquartejado de si

Amém e Além